sexta-feira, 29 de março de 2013
afectos
Sentir afecto por alguém significa proteger, a todo o custo, todas as particularidades do seu universo afectivo e sentir como nossas, as suas alegrias e angústias, numa dádiva de sentimento.
a verdade
Há convicções e apegos à verdade que nos inibem de crer que a verdade seja um conceito variável.
Uma verdade que nos enche a alma hoje, tem de ser uma verdade eterna.
Uma verdade que nos enche a alma hoje, tem de ser uma verdade eterna.
o que somos
O que somos
temo-lo na alma.
Não se vê.
Excepto
se o deixarmos sair...
no olhar.
barreira de protecção...
forma de amar...
A alma
olhará
firme
ou
profundamente...
terça-feira, 26 de março de 2013
e nada disse...
Eu quisera tanto contar-te coisas dos campos e de nós!
E nada disse.
Tive medo de violentar os sonhos...
Fernando Fitas, in "Amor Maltez"
imagem - c o
domingo, 24 de março de 2013
o segredo da montanha
a montanha
é
a mãe
dura e doce...
nas águas que cantam
nas árvores que falam
nas pedras que dizem
questiona
sem parar
e faz sentir
nós
na garganta
que lembram
os afectos
e molham
o olhar
quinta-feira, 21 de março de 2013
ansiedade
Que pena quando inadvertidamente perdemos um momento.
Sentiremos para sempre a sua falta.
Seria bom ter a faculdade de parar o tempo, para recuperar o momento.
Parar o tempo para recuperar o tempo...
Por outro lado, se o tempo parasse, iria prolongar a ansiedade pelo momento que aí vem...
terça-feira, 19 de março de 2013
outra dor
amar
é
enxugar
lágrimas
com beijos
sentir
a angustia
de outra dor
não dormir
e não saber...
morrer
para
não magoar
é
enxugar
lágrimas
com beijos
sentir
a angustia
de outra dor
não dormir
e não saber...
morrer
para
não magoar
segunda-feira, 18 de março de 2013
respirar
Quando as palavras abrem canais de transparência
entre as ilhas fechadas de azedume ou desespero da nossa solidão
uma alegria sempre nova escancara as portas todas para o sol
e eu volto logo inteiro com cega impaciência
para onde jurei mil vezes nunca mais voltar
Deslumbra-se o coração
aberto em girassol
É como respirar
Mário Dionísio, in "terceira idade"
entre as ilhas fechadas de azedume ou desespero da nossa solidão
uma alegria sempre nova escancara as portas todas para o sol
e eu volto logo inteiro com cega impaciência
para onde jurei mil vezes nunca mais voltar
Deslumbra-se o coração
aberto em girassol
É como respirar
Mário Dionísio, in "terceira idade"
domingo, 17 de março de 2013
palavra/imagem/momento
...imagem, momento e um caudal de emoções numa breve e cintilante vertigem de palavras.
imagem - Yuichiro Myiano
sexta-feira, 15 de março de 2013
não há momentos banais
Não há momentos banais
Banais são as pessoas que lhes chamam
banais
Em todos eles um prodígio espera
sob o que nunca houvera
nem voltará jamais
a haver
O prodígio de ser
agora aqui neste brevíssimo minuto
O prodígio de trincar um fruto
O prodígio que é ver-te e é tocar-te
sem saber se esta volúpia de que os dedos se inflamam
é realmente ter-te ou só imaginar-te
Mário Dionísio, in "terceira idade"
imagem - Misha Gordin
queria pedir-te
queria pedir-te
que escolhesses
um poema nu
para vestir
com uma imagem
que espera
o momento
c o
que escolhesses
um poema nu
para vestir
com uma imagem
que espera
o momento
c o
quinta-feira, 14 de março de 2013
Si. Es verdad.
A verdade está nas profundezas da alma, e é lá que a guardarei eternamente junto ao sentido ético, dignidade e sentimento com que amo. Que a verdade me perdoe, mas é tarde de mais...
imagem . "Life and Art"
vento frio, meu amigo.
troco as voltas
ando ás voltas
troco o tempo
e a vontade
há poucas ruas na cidade
e ver-te dói
resta-me a planura
e o vento frio meu amigo
c o
quarta-feira, 13 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
sabedoria
O homem não sabe mais que os animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.
Fernando Pessoa, in "À procura da verdade oculta"
imagem - c o
search
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria
Eugénio de Andrade (excerto)
imagem - c o
quarta-feira, 6 de março de 2013
segunda-feira, 4 de março de 2013
Tom Jobim
Sempre quis ser aquele que não vai ao palco. O piano me oferecia, de volta da praia, um mundo insuspeitado de ampla liberdade – as notas eram todas disponíveis e eu antevi que se abriam os caminhos, que tudo era lícito, e que se poderia ir a qualquer lugar desde que se fosse inteiro. Subitamente, sabe, aquilo que se oferece a um menor púbere, que o grande sonho de amor estava lá e que este sonho tão inseguro era seguro, não, Clarice? Sabe que a flor não sabe que é flor. Eu me perdi e me ganhei, enquanto isso sonhava pela fechadura os seios de minha empregada. Eram lindos os seios dela através do buraco da fechadura.
Tom Jobim (excerto de entrevista a Clarice Lispector)
sábado, 2 de março de 2013
sexta-feira, 1 de março de 2013
Hoje creio em Deus...
"... Klara não é nem alta nem loira. Só a grandeza interior da beleza lhe poderia ter dado, aos olhos do sr. Zatureky, a aparência de grandeza física e luminosa."
Milan Kundera, in "O Livro dos Amores Risíveis"
Na verdade, uma beleza apenas estética e exterior anula-se a si própria. Torna-se fria e inexpressiva. Por vezes,... assustadora.
Falta-lhe o complemento da alma - a dor, a mágoa, a alegria, a generosidade, a coragem...
É extraordinário, o que a dimensão humana confere a um rosto, mesmo que por si só, já seja muito belo. É essa dimensão humana, que lhe dá aos olhos a profundidade, a doçura, o brilho... E aos lábios a capacidade de falar em silêncio...
E faz com que apeteça citar Gustavo Adolfo Becquer, e dizer - Hoje creio em Deus!
c o
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