terça-feira, 31 de dezembro de 2013

alegria!





















A alegria aquece o corpo e a alma,
como uma fogueira em noite fria.

fim de ano





Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.

Carlos Drummond de Andrade

atitude

O poder da atitude, decorre do respeito pelo "outro" quando associado ao verdadeiro afeto.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

chuva






Quem me dera que a chuva viesse e nos diluísse um no outro, e pela noite corrêssemos como um regato em direção ao mar.


Al Berto


desde que em mim nasceste


(...)
Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos,
Se eles são tristes por amor de ti?!...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh´alma
e nunca, nunca mais eu me entendi...

Florbela Espanca, (excerto)

se fosses luz...


Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: - a luz do dia!
- Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
- Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água - música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
- Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!


Eugénio de Andrade

e...

e
se houver amor

que seja dito
apenas dito
pronunciado
aqui, sempre

e
se não houver...

também
seja dito
pronunciado

sem piedade...

ansiosamente

não quero

inventar
momentos

mas espero-os
ansiosamente





domingo, 29 de dezembro de 2013

profissão de amor

Há palavras
que não dissemos,
que não escrevemos,
que, lidas,
nos penetram a pele, a carne e a alma,
de tão doces, doridas e perfeitas.


sábado, 28 de dezembro de 2013

my heart


bênção


























Lentamente
Tudo se vai tornando misterioso

És delicada
Até à fímbria dolorosa
De um rio inominável
Que criaste para nós

Cada beijo
A carícia mais suave
Descrevem uma curva tão completa
Que vai dar a um espaço inicial

Bênção

Alberto de Lacerda, in "Átrio", Imprensa Nacional-Casa da Moeda




2014






Que os dias de 2014 possam ser doridos e doces, quanto baste, para que a vida possa ser partilhada e  sentida no corpo e na alma.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

pura ausência escrita





Da tua chama em pura ausência escrita,
Do teu silêncio vindo como um grito,
Até ao mastro do meu desespero,
Provém meu canto, meu choro, meu louvor.

Alberto de Lacerda, in "Oferenda" Imprensa Nacional-Casa da Moeda

sábado, 21 de dezembro de 2013

viagem...













Terminar uma viagem é sempre frustrante.
Na verdade, a existência de uma origem e de um destino condiciona completamente o viajante.
Os utilizadores do comboio, são utentes.
Já foram passageiros.
Mas nos primórdios dos caminhos de ferro, eram viajantes.
Porque a viagem era o mais importante.
Pouca importância tinham, origem e destino.
Origem e destino são dois momentos apenas. Curtos. Fatais.
A viagem, não.
A viagem é como que uma entidade viva, que nos questiona, que nos surpreende...que nos acompanha.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

cidade mágica



Depois de um dia longo e dorido, a cidade mágica envolve-me e participa no diálogo que mantenho com o meu filhote.
Lembra uma massagem oriental na alma... Sossega-me...










quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

a espera

O que há de horroroso na espera
Em qualquer espera
É que o presente
Só o presente
É a vida
A própria vida

Alberto Lacerda, in "Átrio" Imprensa Nacional-Casa da Moeda

instante






sinto a cada instante
esta sede de dizer
sem usar a palavra

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

finalmente a guerra

e de repente soou um trovão,
e mais outro,
seguidos daquele crepitar
característico
das trovoadas eminentes

mas... tinha anoitecido um céu estrelado...
confirmei, espreitando à porta, as estrelas

sai daí!...és doido?!
ainda apanhas com uma bala perdida!!!

ano de 4050

lá para o ano de 4050
ninguém se lembrará de mim,
nem do olhar meigo dos meus cães,
nem dos contos trazidos pelo vento
que a minha avó Agostinha me contava
nem das lágrimas que tanto prezo

nascer

(...)
E então apeteceu-me também nascer,
nascer por mim, por minha própria vontade,
sem pai nem mãe,
sem preparação de amor,
sem beijos nem carícias de ninguém,
só, só e só por minha livre vontade...
(...)

António Gedeão in, "Poesia Completa" (excerto)

wishlist


domingo, 15 de dezembro de 2013

a magia da surpresa

O que o eu tem de único encontra-se precisamente naquilo que o ser humano tem de inimaginável. Só consegue imaginar-se o que é idêntico em todos, o que é comum a todos. O "eu" individual é aquilo que se distingue do real, e é, portanto, aquilo que não pode ser adivinhado nem calculado antecipadamente, aquilo que primeiro é preciso desvendar, descobrir, conquistar no outro.

...esse milionésimo de diferente, só na sexualidade aparece como uma coisa preciosa, porque não é publicamente acessível, mas na realidade está sempre presente. à espera de ser descoberto.


Milan Kundera, in "A Insustentável Leveza do Ser"

 

sábado, 14 de dezembro de 2013

se cantasse...





Se cantasse, talvez o coração
sossegasse o peito.
Mas vou perdendo o jeito 
de cantar.
A vida, devagar, 
leva-nos tudo,
e deixa-nos na boca, o gosto de ser mudo.

Miguel Torga

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

...de que fontes de que águas...



(...)
De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida

há palavras...





















Há palavras,
das quais
não é possível
não ficar
apaixonado,

porque
nos povoam
a alma.

Porque apetecem...

Palavra...
minha querida,
meu amor...




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

farol







que a luz da minha alma
possa ser o farol
que apague a distância
e aqueça o peito


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mandela









Mandela morreu. Sinto-me mais só.
"Brothers in Arms" pelos Dire Straits e Eric Clapton fez-me chorar. Obrigado Mandela.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

a minha guitarra

Por enquanto não falo a mesma linguagem que a minha guitarra. :-)
Temos uma relação muito recente, se bem que intensa.
Que o digam os meus dedos da mão esquerda, que têm travado um verdadeiro corpo a corpo com as cordas ficando algo doridos...mas felizes.
Do ponto de vista técnico consigo "manusear" já, dois acordes: oe o lá  :-) e estou a tentar musicar com eles um pequenino poema meu, intitulado "Luz da minha alma".
A harmonia entre a minha voz e os dois modestos acordes não dura mais que uns breves segundos, suficientes, contudo, para produzir pequenos flashs de emoção, que me apanharam completamente desprevenido, fazendo com que me volte a questionar sobre a existência de Deus. Sim, porque a existir, só fará sentido manifestar-se nos momentos mais belos.


o poder do amor






O amor deseja, o medo evita.
Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos.
Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme:  seu estado é de medo-respeito.

Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta.

Nietzsche (Humano Demasiado Humano)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

usted

maré da manhã

Volta até mim no silêncio da noite
a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
que eu não esqueço. Volta até mim
para que a tua ausência não embacie
o vidro da memória, nem o transforme
no espelho baço dos meus olhos. Volta
com os teus lábios cujo beijo sonhei num estuário
vestido com a mortalha da névoa; e traz
contigo a maré da manhã com que
todos os náufragos sonharam.

Nuno Júdice 

se cuida




Na frase - "Se cuida", o sujeito te ama.

Isabelle Mayara

respeito




Amor é a união de duas solidões que se respeitam.


Ranier Maria Rilke

escravo, mas livre...



Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada.
Entregai-vos ao travo doce das delicias
Que filhas são dos seus tormentos.
Porém, não busqueis poder no amor...
Que só quem da sua lei se sente escravo
Pode considerar-se realmente livre.

Ibn - ´Ammàr

Adalberto Alves, in "O meu coração é árabe" (poesia luso-árabe)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

corpo e alma




Somos apenas corpos vivendo...

Clarice Lispector

harmonia















olhar
lábios
dedos
suaves...

palavras
boca
mãos
doces...

brancura
dentes
harmonia
colorida,,,

equilíbrio interior

...Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou no impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em razão, ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está "feito um para o outro". Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente se o amar.

Vergilio Ferreira