quarta-feira, 28 de agosto de 2013

se fosses luz

























Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: - a luz do dia!
- Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
- Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água - música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
- Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!


Eugénio de Andrade

não sei...














Por um olhar, um mundo;
por um sorriso, um céu;
por um beijo...não sei
que te daria eu.

Gustavo Adolfo Bécquer

domingo, 25 de agosto de 2013

eu sei


Um país que esquece uma cantora e interprete desta têmpera e promove alegremente todo o tipo de nulidades musicais, é um país triste. Muito triste...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

3 vidas























Todos temos 3 vidas: a vida pública, a vida privada e a vida secreta.

Jorge Luís Borges






Alexandre O´Neil

terça-feira, 20 de agosto de 2013

e tu




















e tu
sempre tu
num prodígio de luz

a enlouquecer-me
as sombras


Gil T. Sousa

sábado, 17 de agosto de 2013

contraponto da alma


Ai, a vida...






Ai a vida!
Quanto mais me magoa, mais a canto.
Mais exalto este espanto
de viver.
Este absurdo humano,
quotidiano,
de um poeta cansado
de sofrer,
e a fazer versos como um namorado,
sem namorada que lhos queira ler.

Cego de luz e sempre a olhar o sol
num aturdido
deslumbramento.
Cada breve momento
recebido
como um dom concedido
que se não merece.
Ai, a vida!
Como dói ser vivida,
e como a própria dor a quer e agradece.

Miguel Torga

nocturno


air


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

a boca





















A boca
onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila,
a boca espera
(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)
espera o ardor
do vento
para ser ave,
e cantar.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

espero...





















Espero sempre por ti o dia inteiro,
quando na praia sobe, de cinza e oiro,
o nevoeiro.
E há em todas as coisas o agoiro
de uma vinda fantástica.

Sophia de Mello Breyner

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

lover, lover, lover


D. Quixote







Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar um mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar um inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.

Miguel de Cervantes y Saavedra

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

luz





Há qualquer coisa que África tem.
Há qualquer coisa que África diz.
Não sei o que é. Nunca irei saber.
Mas sinto-o.
Sentirei sempre muito...
África!

tomara

a felicidade e as idades da vida


O que torna infeliz a primeira metade da vida, que apresenta tantas vantagens em relação à segunda, é a busca da felicidade, com base no firme pressuposto de que esta deva ser encontrável na vida: o resultado são esperanças e insatisfações continuamente frustradas. Visualizamos imagens enganosas de uma felicidade sonhada e indeterminada, entre figuras escolhidas por capricho, e procuramos em vão o seu arquétipo. 
Na segunda metade da vida, a preocupação com a infelicidade toma o lugar da aspiração sempre insatisfeita à felicidade; no entanto, encontrar um remédio para tal problema é objectivamente possível. De facto, a essa altura já estamos finalmente curados do pressuposto há pouco mencionado e buscamos apenas tranquilidade e a maior ausência de dor possível, o que pode ocasionar um estado consideravelmente mais satisfatório do que o primeiro, visto que ele deseja algo atingível, e que prevalece sobre as privações que caracterizam a segunda metade da vida.
 
Arthur Schopenhauer

sobre o regaço


Sobre o regaço tinha
o livro bem aberto;
tocavam em meu rosto
os seus caracóis negros.
Não víamos as letras
nem um nem outro, creio;
mas guardávamos ambos
fundo silêncio.
Por quanto tempo? Nem então
pude sabê-lo.
Só sei que não se ouvia mais que o alento,
que apressado escapava
dos lábios secos.
Só sei que nos voltámos
os dois ao mesmo tempo,
os olhos encontraram-se
e ressoou um beijo.

Gustavo Adolfo Bècquer

infinito amor




...
quem ousará dizer que ele é só alma?
quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?


Carlos Drummond de Andrade

delirio






Nua, mas para o amor não cabe o pejo
...Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frémitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo; meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente , a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem!? Num frenesim.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem!? Disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci.


Olavo Bilac


poema incompleto






É um sonho esta vida,
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e fumo...
Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até á morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor


Gustavo Adolfo Bécquer