segunda-feira, 30 de junho de 2014

desassossego

a minha alma
não me dá
sossego.

fonte

É de crer,
que a dinâmica do amor,
seja uma dinâmica da mesma
natureza,
que a dinâmica das fontes.
Sendo que, 
a água das fontes 
se renova, 
incessante, 
na busca
de liberdade 
até ser rio, 
bravo e livre, 
para navegar, 
de colete e capacete, 
num turbilhão de emoção,
doce naufrágio
de ternura,
que nos arrasta 
e deposita 
num beijo sonhado, 
que espera,
até à eternidade...


domingo, 29 de junho de 2014

saudade

(...)
saudade é amar um passado que ainda não passou,
recusar um presente que nos magoa.

só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

e esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

o maior sofrimento é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda (excerto)


não sou




















não sou
quem sou.

quem sou
és tu.

wish you were here




rochedos errantes





















só os
rochedos errantes
da montanha,
ouvem
o grito
que me rasga o peito
e a alma,

e
absorvem
o pranto, que
não contenho,

como fazem
com a chuva.

amo-te tanto...

sábado, 28 de junho de 2014

madrugada




















uma madrugada
espera,
pela luz
do teu olhar.

a sensualidade da vida





















Entendo a festa como um acto sexual com a vida. Uma penetração.
Uma penetração ostensiva, física, algo violenta, apoiada por decibéis musicais e muito álcool.
Prefiro a relação também ela sensual, que mantenho com a vida fora da festa. Esta, para além de mais duradoura, é uma relação de outra natureza. É uma penetração vibrante mas doce, terna e profunda, apoiada em muita ternura, numa simbiose de corpo e alma fundidos de amor.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

contudo, o amor




Para superar os contrastes mediante a alegria, o amor não pode suprimi-los ou negá-los.


Nietzche

e tudo parece ter alma



e tudo
parece ter alma.
e tudo
me obriga
a amar
em pranto,
sem entender
quando,
quanto,
porquê.


imagem - Howard Schartz

quinta-feira, 26 de junho de 2014

tantas palavras




















tantas palavras,
momentos
e olhares,
que a memória
não apaga,
da pureza das almas
impacientes,
à espera do tempo.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

momentos...

Todos os momentos nos pertencem. Mas há momentos que nos massajam a alma...

a montanha...

algo brilha,
por entre
o torpor
magoado,
com que a montanha
me adormece
a nostalgia...

domingo, 22 de junho de 2014

hablame

hablame.
en silencio,
pero, hablame.

llena mi alma,
con tú alma.

sábado, 21 de junho de 2014

plenitude

escrever é uma libertação, uma contemplação, uma consagração, uma plenitude de aceitação de uma dor incontida, entranhada na alma.

sul

sucedem-se
as imagens
no alvoroço
da mente.

abraço
o vazio,
tateando
a textura
do vestido,
macio
e azul,
que cobre
a pele,
bronzeada
levemente,
por um verão a sul.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

sem dormir

preciso de tocar
o teu nome,
a tua gentileza,
para adormecer
sem ti.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

o silêncio

a essência do que me rodeia é o silêncio.

o silêncio é a fímbria da minha alma.

nada para mim é audível, senão o silêncio de ti.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

sei agora...




                                                     (...)
                                                     sei agora como nasceu a alegria,
                                                     como nasce o vento entre os barcos de papel,
                                                     como nasce a água ou o amor.

                                                Chopin - Nocturne Op.9 nº2
                                                                Eugénio de Andrade, (excerto) in "Até Amanhã"

sustentos da alma

a leveza
e a dor,

do ser,

sustentam.

se até...

se até,
o vazio
e o nada,
são doces,
de ti.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

"corpos estranhos"

A única coisa que verdadeiramente me assusta, é cair involuntariamente, nas zonas tenebrosas e escuras do preconceito ou da calúnia, devido a qualquer erro de cálculo, ou devido ao calculismo deformado de outros, partindo do meu permanente estado de disponibilidade com as mãos nuas, ou devido ainda, à intromissão de "corpos estranhos", à paz que sustenta a verdade.
As armas, mesmo defensivas, são para a minha filosofia de vida, apenas e só - inaceitáveis.
O apego à verdade e à dignidade, obrigou-me a dar sempre - TUDO o que tenho.
Já me tem custado caro. Mas não sei, nem quero mudar.
Mudar, seria mudar um sentido de vida, que tanto sentido faz para mim.
Há muito que me habituei a não perder a esperança, de que me entendam e me respeitem. 
Como eu respeito.

bem vindo Shumacher

Nem em dia de Alemanha - Portugal, me sai da cabeça a recuperação de Shumacher. Não sendo seu particular admirador, sempre o achei um pouco criança e imaturo, apesar de bom tipo, sinto esta sua esta vitória como um presente.
Creio que, por não apreciar desportos motorizados, o menosprezei enquanto campeão.
Mas aqui está a sua verdade de campeão, que a partir de um inconsciente fragilizado, nunca tirou o pé. Nunca encostou, em direcção à vida.
Pelo seu amor ao futebol, não me incomodava ceder-lhe o prazer da vitória daqui a pouco.
Bem vindo Shumacher.

ainda e sempre, o inconsciente...

Uma foto que "tiramos", deve corresponder a um momento, que de alguma forma nos questiona sobre a vida, sobre o tempo e a memória, sobre a nossa existência, e que tornamos eterno com um click.
É um momento diria, dramático, por nos colocar perante a enorme responsabilidade de imobilizar no tempo, o que o nosso inconsciente ditou.

freedom
















Coração encadeado, espírito livre.


Nietzche, "Para além do Bem e do Mal "

domingo, 15 de junho de 2014

nem o tempo existe




















a alma
repousa
por breves momentos
porque o tempo...
o tempo não existe.

sábado, 14 de junho de 2014

um luar

















O que torna as pessoas bonitas, é a sua verdade, a sua alma, a sua dignidade, o seu olhar...
E há pessoas tão bonitas...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

terça-feira, 10 de junho de 2014

letras minúsculas

sinto-me tão bem
a escrever com minúsculas.
constrange-me usar maiúsculas.

todo o Poder
é escrito com maiúsculas:
Deus, Estado...

escrever com minúsculas,
é natural,
não obriga,
não oprime,
não magoa.

é
uma libertação.

e,
o uso da pontuação,
que não é regra,
permite,
a respiração,
livre
e tranquila,
da palavra.



cores

Explicar as coisas que eu sinto, é quase como explicar as cores a um cego.


Bob Marley


segunda-feira, 9 de junho de 2014

seria injusto

Confesso que sinto vontade de apagar muito do que neste espaço escrevi, mas seria injusto para mim, apagar emoções tão profundas, e tanto sofrimento por soltar palavras.

"bitaites"

Por todo este desgraçado país, desenvolveu-se  de há uns anos para cá, a cultura do "bitaite", da "boca", do "deitar abaixo" o outro.
Entre adeptos de diferentes cores futebolísticas.
Entre adeptos de diferentes partidos.
Entre detentores de ideias diferentes. E por aí fora.

Está aqui implícita, uma necessidade ancestral de marcação de território.
Contudo, dado existir uma suposta evolução em termos civilizacionais, seria também suposto, não ser descurado o respeito pela diversidade e pelo "outro", e haver alguma aprendizagem e evolução nesse sentido.
Mas não. O melhor "bitaite" é que ganha.
No entanto, e para quem esteja distraído, é bom que se perceba, que este fenómeno é da mesma natureza que o fenómeno que suporta a confrontação entre povos. É um fenómeno construído, portanto. É, do ponto de vista do inconsciente, mais importante do que parece. Daí, que frequentemente, o autor do "bitaite" se desculpe com um: "estava a brincar".
Sempre me senti desconfortável neste tipo de enquadramento, sendo por isso "gozado" duplamente:  por ser vítima do "bitaite", e por não entender o "bitaite".
Como toda a gente, já tenho magoado inadvertidamente, mas nunca senti o menor preconceito em pedir desculpa.

fui ao teatro

Fui ao teatro.
Há muitos, muitos anos que não ia ao teatro. Cheguei entusiasmado, mas o reduzido auditório logo ditou a desolação. Sim. É importantíssimo o calor do público, numa sessão de teatro.
Um  público de pouco mais de meia dúzia de pessoas, não é público quente para os actores. Mas estes, com uma coragem e dignidade impressionantes, representaram, transportando a audiência, numa viagem sem tempo através da dor.
Sinto tristeza por:
- A indiferença de uma comunidade, que ignorou o precioso trabalho de representação, a todos os níveis fascinante, bem como a intensa mensagem da peça.
- Não ter agradecido aos actores, a sua dignidade e coragem.

Fica o vazio, por não ter sentido a emoção de uma sala cheia, em silêncio, a desfrutar a magia do teatro.

o lápis azul

Futebol
Tourada
Carnaval
Feira Anual
DJ Mocas
DJ Canab
Festival A
Festival B
Festival C
Santos Populares
e Não Populares
Tonys Carreira
e Sem Carreira
Natal e Ano Novo
Vida nova...
Futebol...

Se não gosto, não desfruto, nem sou obrigado a comer - ponho na borda do prato.
E não tenho que protestar, ou levo com o lápis azul.
Aqui, baixinho para ninguém ouvir, a lista acima, parece ter sido criada por António Ferro, o braço direito de Salazar, para os assuntos festivos e de entretenimento.

Ai disto, se de novo voltarmos ao pensamento único, propriedade dos donos da verdade, uma espécie de que, confesso - não sou fã, e voltarmos à sujeição do lápis azul.
Por favor...
A minha sorte é que não tenho a mania que já sei tudo. 
Apraz-me imenso manter, com modéstia, a mente aberta aos ensinamentos da vida, que durarão até ao fim.
Mas confesso-me surpreendido por ainda existirem mentes com a convicção, de que só há crítica nefasta.
Certamente ausentes da miserável escuridão de 48 anos, que cada vez mais, é recordada como folclore.
Fiquei a ganhar. Descobri mais uma pequena verdade.




domingo, 8 de junho de 2014

não, não quero...

não.
não quero
que, o sofrimento
e a dor
me abandonem.

...numa água sem tempo.



quero,
sair de mim
e navegar,
numa água sem tempo,
como as lágrimas.

celebração

Nada dói tanto,
como
sonhar/acordar/sonhar
alucinadamente,
numa
longa
noite,
os pavores
de uma indiferença
configurada
como um anátema,
nas profundezas da alma.

Celebremos a dor.

sábado, 7 de junho de 2014

eternidade




Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como a natureza.


Pablo Neruda
art Daniel del Orfano 
in, Artes e Poesias

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ardência













... diz: quando será curada
a ardência do meu coração
com o fresco toque dos dentes
que na tua boca estão?


Al Mu´Tamid, poeta do amor

de um mar imenso...

há momentos
em que
as palavras
me inundam
e me varrem,

como ondas
incansáveis,

vindas
de um mar imenso,
revoltado
de tanto amar.

lo confieso

lo confieso:
verte
me agita,
me molesta,
me hiere,
pero me encanta.

todo brilla

todo brilla
cuando
tu pensamiento
me habla.

perdas

A perda de alguém, por morte, considerando que apenas é perda se, por esse alguém tivermos um profundo afeto, assemelha-se a uma ferida que contraímos no corpo.
Em ambos os casos se inicia de imediato um processo de cicatrização, que pode não ter nenhuma relação com a nossa vontade.
Por outro lado, na perda de alguém que não por morte, considerando de igual modo, alguém a quem nos liga o mesmo afeto, o processo de cicatrização simplesmente - não começa.
Como uma ferida, diariamente mexida e magoada.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

mirar su imagen

contemplación,
encantamiento,
deseo,
respeto
y mucho dolor,

sostiene el amor.

domingo, 1 de junho de 2014

não

não.
os meus sentimentos não me assustam.

mata-me de vez...

Toca-me com as tuas mãos.
faz-me desaparecer com a tua pele.
Sufoca-me na tua língua.
Arrasta-me pelo ar com o teu perfume.
Mata-me de vez.

Maria Teresa Horta (excerto)

diz o meu nome...

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo...

Mia Couto