sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

os sonhos

estou
impregnado
de ti

e devora-me
um ciume
primário.

os sonhos
atropelam-me
a alma
e ensopam-me
o corpo
de frio.


sábado, 24 de janeiro de 2015

a minha medida?...

A minha medida? Amor.
E tua boca na minha
imerecida.

Minha vergonha? O verso
ardente. E o meu rosto
reverso de quem sonha.


Hilda Hirst

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

presságio

Ah, ternura dos dias
que prometiam alguma cousa.
Ah, noites que esperavam vida.

Disseste que o mundo
dificulta o caminho dos bons
e que pesa tanto nos teus ombros
o estandarte do amor.

Tua vida consumi-se
num sonho de adolescente.
teus olhos há muito
não dizem nada
e simulam mistério
quando sorris.

Sabes alguma cousa
além dos homens.

soubesses ao menos
a eterna escuridão
dos que procuram luz.


Hilda Hirst

nada é errado...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

demasiada loucura...

Demasiada loucura, é o mais divino juízo...


Emily Dickinson

bela

Bela, minha bela,
a tua pele, a tua voz, as tuas unhas,
bela, minha bela,
o teu ser, a tua luz, a tua sombra,
bela,
tudo isso é meu, bela,
tudo isso é meu, minha,
quando caminhas ou repousas,
quando cantas ou dormes,
quando sofres ou sonhas,
sempre,
quando estás perto ou longe,
sempre,
és minha, bela,
sempre.


Pablo Neruda, (excerto)

sua beleza é total

Sua beleza é total.
Tem a nítida esquadria de um Mantegna.
Porém como um Picasso de repente
desloca o visual.

Seu torso lembra o respirar da vela.
Seu corpo é solar e frontal.
Sua beleza à força de ser bela,
promete mais do que prazer.
Promete um mundo mais inteiro e mais real.
Como pátria do ser.


Sophia de Mello Breyner

não é possível

não é
possível,
contemplar
impunemente,
o que
me sufoca
o corpo
e a alma.

resta-me
não olhar,
para evitar
a denúncia,
de uma lágrima
que espera.

domingo, 18 de janeiro de 2015

silenciosamente

beijaste o
meu gesto
e a alma
floriu,
em mim,
silenciosamente.

dias partidos

Devias
estar
aqui rente
aos meus
lábios para
dividir contigo
esta
amargura
dos meus dias
partidos
um a um ...


Eugénio de Andrade

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

não... por favor.

Como dizer a uma doçura de 4 anos, que já não tem o adorado pai?
Inteligente e sensível,  já o percebeu há muito, mas recusa as abordagens que tenham por objetivo legitimar a perda, e preencher na sua alma a lacuna dolorosa.
Não. Não quer que lhe digam o que sempre soube. Não quer que lhe tirem o pai.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

do desejo

colada a tua boca a minha desordem.
o meu vasto querer.
o incompreensível se fazendo ordem.
colada à tua boca, mas descomedida
árdua
construtor de ilusões examino-te sôfrega
como se fosses morrer colado à minha boca.
como se fosse nascer
e tu fosses o dia magnânimo
eu te sorvo estremada à luz do amanhecer.


Hilda Hilst

sinto..

Sinto,
colado na pele,
na carne,
na alma,
um anátema de
desejo insuportável,
de um beijo
longo e doce,
muito doce...

sábado, 3 de janeiro de 2015

e a saudade é tão grande...


qual vinho...

e na lonjura,
uma doce
exaltação
embriaga a alma,
qual vinho
gostoso,
frutado, e forte,
de uma
cepa antiga,
como o tempo,
como o amor.