terça-feira, 25 de novembro de 2014

wings of desire


meu jardim

Meu jardim tem uma fonte,
e a fonte uma quimera,
e a quimera um amante,
que agoniza de tristeza.


Juan Ramón Jimenez, in "Àrias Tristes"

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

áspera rocha

Amo-te tanto.
Poeta já não sou.
Nem mesmo amante.
Na minha estrela sem luz
existe um medo maior
do que perder-te.
Te amar pressentindo e renascendo
áspera rocha... fonte...


Hilda Hilst

sábado, 15 de novembro de 2014

salvação




Se for possível amar alguém apaixonadamente, então a vida tem salvação. Ainda que não seja possível reunir-mo-nos com tal pessoa.


Haruki Murakami

domingo, 9 de novembro de 2014

a tua vinda

a tua vinda,
agita-me
o sossego
que não desejo,
nem tenho.

sábado, 8 de novembro de 2014

amar


(...)
Quando eu era jovem discordava da afirmativa de Nelson Rodrigues: “Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor”. Entendia que o amor necessitava de presença, toque, sexo, beijos. Hoje minhas retinas refletidas e vividas, permitem-me compreender: Há o amor de querer bem, não importa o fim, segue-se, sim, amando.

Luciana Chardelli


© obvious: http://lounge.obviousmag.org/luciana_chardelli/2014/11/do-amor.html#ixzz3ITVSfSpZ 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

balada do festival

Haste pensativa e débil
da rosa que tenho na memória.
Te pareces comigo na efémera vontade 
de ser mais vida e menos morte.
Só nos falta o amor. Grande. Sem mácula.
O poema infinito para mim, 
a eternidade para a tua rosa.


Hilda Hist

nada garante que tu existas




























Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas

David Mourão-Ferreira, in "Obra Poética"

terça-feira, 4 de novembro de 2014

sem cessar...

...
sem cessar, percorro os céus com os olhos
a tentar ver a estrela que estás contemplando.


Abu Bakr al-Turtusi, in "Ladrões de Prazer" (excerto) poemas arábico-andaluzes

denúncia

...

Éramos,
no coração das trevas,
dois segredos
até que a língua da aurora
estava prestes
a denunciar-nos.


Ibn Zaydun, in "Ladrões de Prazer", (excerto) poemas arábico-andaluzes

lembrança

...

Tudo excita a lembrança
da minha paixão por ti
que nunca abandona meu peito
por melhor que eu o feche.


Ibn Zaydun, in "Ladrões de Prazer" (excerto) Poemas arábico-andaluzes

domingo, 2 de novembro de 2014

outras angústias

sensação estranha,
que,
nocivas,
inócuas,
razões,
afastem
o lugar,
inteligente,
livre,
sensível,
elegante,
onde senti
e me senti.

sábado, 1 de novembro de 2014

incontornável

Tudo aquilo em que ponho afeto fica mais rico e me devora.

Ranier Maria Rilke




será que...

Será que afinal, ao contrário o que julgava, uma verdade que nos enche a alma, não é uma verdade eterna.
Sinto-me confuso.
Suspeito que, incompreensivelmente, não sou bem vindo, a um espaço onde fui, durante muito... muito tempo,  respeitado e gentilmente tratado.
Uma suspeita que não entendo e que ficará dolorosamente, envolta na escuridão da dúvida, para sempre.
Estou sempre à procura do lado bonito das pessoas, daí que tenha uma enorme dificuldade de identificar seu outro lado.
E depois, tenho o defeito de não entender, palavras indirectamente orientadas na minha direcção.
Sempre me pautei pela frontalidade, pelo que, insinuação, é um conceito que não faz parte do meu léxico.
Resta-me o canto onde vou ficar comigo. Este.
As minhas palavras, as minhas emoções, os meus sentimentos, merecem-me respeito.


enfim...

Tenho alguma alguma dificuldade, para não dizer - imensa dificuldade - em interagir com gente boçal.
Podem não ser particularmente ofensivos. Ok. Mas a sua exuberância irrita-me. Por isso quero ter o direito de dizer - Não! Ao seu convívio..
Não quero, nem tenho nada para dizer a este tipo de pessoas. Exibam-se, divirtam-se, mas por favor, não me chateiem.
Na verdade, não é muito difícil evitar o contacto e consequentemente, o indesejável efeito. A maior parte destes períodos, ajo com a maior indiferença, para com a generalidade de quem me rodeia, por imperativos da vida social, numa atitude de auto defesa e de sobrevivência. Esta atitude, contudo, tem custos, tipo: sacos de lixo anónimos junto à porta, descargas de entulho ilegais no meu espaço agrícola, pneus furados. Mas pronto. Dou isso de barato. Já tenho idade suficiente e um fascínio tão grande pela vida, que este tipo de coisas não irá ter o efeito pretendido. Não passam de "trocos".
O meu grande problema, surge quando sinto aqueles que amo, ao dispor do referido "bando", que existe em todas as tonalidades e quadrantes. E se a isto adicionar o facto, de que a generalidade das pessoas não passa de "vaidade e fumo" e nada difere da boçalidade... dói tudo em mim, de impotência e revolta.

divago...

não tenho saudades
da pide,
dos bufos,
dos serões/seca,
de salazar,
das conversas,
marcelistas,
da pobreza intelectual,
do pensamento único,
do nada...


volvidos 
40 anos, 
rodeia-me o desencanto
a desilusão, 
com que diariamente, 
luto para que não encontrem 
reflexo, 
em mim. 

tudo mudou, 
para que tudo, continuasse.

o pensamento único, vestiu-se 
de uma diversidade virtual...
colorida... 

apenas resiste, 
autêntica, 
a dor.

celebremos a dor.