sábado, 25 de fevereiro de 2012
Filosofia
Construo o pensamento aos pedaços: cada
ideia que ponho em cima da mesa, é uma parte do
que penso; e ao ver como cada fragmento se
torna um todo, volto a parti-lo, para evitar
conclusões.
Nuno Júdice, in "Pedro lembrando Inês"
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Bêbado da luz pálida dos teus olhos
Bêbedo da luz pálida dos teus olhos,
esvazio ainda o teu copo; e voltas a enchê-lo,
sabendo que é inesgotável esta sede!
Nuno Júdice, in "Pedro lembrando Inês"
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Sou o teu guia
Sou o teu guia,
tu o meu.
Por grutas, astúcias,
viagens ancestrais.
Nada de quem amou ignoras.
Sabes
e eu sei dar-te
na pele
o prazer do sol.
António Osório, in "O lugar do amor"
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Amo os loucos
Amo os loucos,
crianças tagarelando
que descobrem, instante
a instante, o mundo
e tudo enovelam
à sua translúcida maneira.
Não possuem maldade,
mas ignorado amor
e incapaz poesia.
António Osório, in "O lugar do amor"
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Não sei se dor
Não sei se dor
Ou muito amor
Eu sinto.
Mas isto é maior do que a morte;
Não posso mais.
Eu minto.
Ruy Cinati, in "Anoitecendo, a vida recomeça"
Líricas Portuguesas I volume
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Eros de passagem
Pelo sabor da água reconheço
a ternura e os flancos do verão.
Eugénio de Andrade, in Líricas Portuguesas II volume
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
neta
ah,
o medo
pesou...
pequenina...
muito leve...
olhar atento
determinado!...
torrente
de alegria
afasta as sombras da minh`alma
a minha neta
c o
A angústia
Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com seu eco tão rubro,
a solene dolência dos poentes além.
Eu rio-me da Arte, do Homem das canções,
da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio das catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.
Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e não posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.
Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.
Paul Verlaine, in "Melancolia"
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Morrer de amor
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do teu sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
Maria Teresa Horta, in "Destino"
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Pergunta-me
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Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto, in "Raiz de orvalho e outros poemas", excerto.
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sábado, 11 de fevereiro de 2012
Ser, parecer
Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
e a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos
Mia Couto, in "Raiz de orvalho e outros poemas"
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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Toda a realidade é redutora
Viajar não é realizar o imaginário que nos excita antes da viagem, mas exterminá-lo. O deslumbramento é do que se imagina e não do que realizou esse imaginar. Nós pensamos numa terra longínqua e confusamente, admitimos que essa distancia é sensível quando lá estivermos. Ora quando lá estivermos há o real que desmistifica o imaginário, há o lá, como aqui, num sitio limitado por um horizonte totalmente presente e não tocado da ausência que havia na imaginação.
Mesmo os seus elementos característicos, que tiver, uma vez realizados, perdem a magia na sua realização.
Eis porque precisamos ás vezes de rever num mapa a sua localização para de algum modo lhe restaurarmos a distância. Tudo se solidifica na concretização do real, tudo se desvanece aí da sua figuração. A grande força do real é a do que está para lá dele, porque toda a realidade é redutora.
Vergilio Ferreira, in "Pensar"
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domingo, 5 de fevereiro de 2012
Ceifeira
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como o limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" , excerto de "Ela canta, pobre ceifeira"
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Anseios
Meu doido coração aonde vais,
no teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
meu pobre coração olha cais!
Deixa-te estar quietinho! Não amais
a doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
não valem o prazer duma saudade!
Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
não te deslumbre o brilho do luar!
Não estendas as tuas asas para longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
na paz da tua cela, a soluçar!...
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
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O paradoxo do entendimento
Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável:
queria entender o bastante para pelo menos ter mais
consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo
não quisesse compreender, sabia que aquilo era impossível e
todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter
compreendido errado. Compreender era sempre um erro.
Preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era -
Era ruim, mas pelo menos se sabia que não se estava em plena
condição humana.
Clarice Lispector, in "Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres"
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sábado, 4 de fevereiro de 2012
Olá, eu sou a "Bolota"!
Os animais são pessoas como nós somos animais.
Teixeira de Pascoaes
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Os animais são pessoas como nós somos animais.
Teixeira de Pascoaes
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Contemplo o que não vejo
Contemplo o que não vejo
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande.
Sinto árvores além.
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso
Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
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Um poente triste
Nunca sei como é que se pode achar um poente triste.
Só se é por um poente não ter uma madrugada.
Mas se ele é um poente, como é que ele havia de ser uma madrugada?
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
O constante dialogo
Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado
Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as ideias
o sonho
o passado
o mais que futuro
Escolhe o teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio.
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.
Carlos Drummond de Andrade, in "Discurso de Primavera"
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instantes
No instante entre o nascer e o morrer do dia, há um quotidiano fantástico e generoso por descobrir.
Alguns minutos de Luar... por exemplo. :-)
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