segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
A angústia
Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com seu eco tão rubro,
a solene dolência dos poentes além.
Eu rio-me da Arte, do Homem das canções,
da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio das catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.
Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e não posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.
Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.
Paul Verlaine, in "Melancolia"
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