terça-feira, 27 de novembro de 2012

ausência






















Eu deixarei que morra em mim, o desejo
de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa,
de me veres eternamente exausto.
No entanto, a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida.
...
Vinicius de Moraes (excerto) 
imagem - c o

domingo, 25 de novembro de 2012

nascer de novo















Amar-te é nascer de novo,
regressar à minha fonte.
Nesse momento começo a morrer.

Casimiro de Brito
imagem - c o

o que me perturba


















O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim, 
de mim, 
pobre de mim, que sou parte do todo.

António Gedeão
imagem - c o

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

a insustentável leveza do ser












Estou querendo viver da parte humana mais difícil. É um amor muito maior que estou exigindo de mim. É uma vida tão maior que não tem sequer beleza. Estou tendo essa coragem dura que me dói como a carne que se transforma em parto.

Clarice Lispector
imagem - c o

voo




Entraste na casa do meu corpo,
desarrumaste as salas todas
e já não sei quem sou, onde estou.
O amor sabe. O amor é um pássaro cego
que nunca se perde no seu voo.

Casimiro de Brito
imagem - A. Brito

terça-feira, 20 de novembro de 2012

formas de amar


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas 
não me tires o teu riso

Pablo Neruda



Sempre amei por palavras muito mais 
do que devia

são um perigo
as palavras

quando as soltamos já não há
regresso possível...

Alice Vieira 

a construção do pecado






















...sim, só pode ter havido algures no tempo, uma construção do pecado. E se a houve foi com alguma intenção, quiçá luminosa e evolucionista.
Mas afinal o que é o pecado?! Essa maravilha que as sociedades "primitivas" não conhecem.?! E que dizer da nudez?! Outra construção que os povos "primitivos" também desconhecem?!...Que pensará um Nambiqwara ou um Boróro se lhe dissermos que está nu? Infelizmente a muitos deles já nem  faz sentido  colocar  tal questão, porque foram transformados em paroquianos, com o corpo obrigatoriamente coberto por roupas andrajosas.  Perderam a beleza do corpo, ganharam a tristeza do olhar.

Os povos "primitivos" sabem viver em perfeito equilíbrio e harmonia com a natureza, para além de saberem educar os seus filhos desde cedo, no conhecimento do mundo que os rodeia: quando não devem caçar determinado animal, quando podem colher esta ou aquela planta; assim como as  regras sociais que lhes sustentam uma vida  de inconsciente plenitude e sem medo da ternura. E que lição nos dão sobre o amor...

Mas, o que  não conhecem é a hipocrisia, e, ficam honestamente espantados ao ver chegar o homem branco, com o corpo coberto de roupas, apavorado por ter pecado...


c o

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

o meu maior fantasma


Decorridos muitos séculos de evolução, o "saldo" da brilhante sociedade ocidental,  resume-se à escravatura e ao pecado. O capitalismo moderno soube adaptar estas  2 "valências",   acrescentado-lhe o racismo.

Ando "nisto" há 62 anos e detesto teorizar,  mas,  aqui que ninguém me houve e só almas puras me lêem  vou aliviar um pouco o peito.

Qualquer cultura assenta em atitudes e preceitos, isto é, pilares de sustentação de si próprias. Quando uma comunidade não está bem, algo se passa ao nível das normas que lhe estão associadas;  ou porque não existem, ou porque são defeituosas, ou porque não são respeitadas. Isto é elementar, suponho.
A principal característica de uma cultura é,  desde há milénios, a sua relação com o divino. Não importa aqui, esmiuçar o fenómeno religioso... - existe e é o pilar de todas as culturas à volta do mundo, sejam elas: cristã, islâmica, judaica, budista, hindu ou animista, ponto final.
Assim sendo, verificamos  que o pilar da sociedade mais poderosa, moderna e dominante, - a chamada sociedade ocidental, - é o cristianismo.
E,  por outro lado que é esta sociedade, que serve de berço a fenómenos  como: violência gratuita, crime organizado, (redes de pedofilia, tráfico de seres humanos, etc...) e toda uma diversidade de atitudes humanamente absurdas e instituídas.
...
A partir do momento em que portugueses e espanhóis se espalharam pelo mundo a levar a "nova moral", (na América pós-colombiana, Cortez e Pizarro, para tal, mataram 20 milhões de índios, enquanto os portugueses "trabalhavam" a costa de África e a Índia)  o processo de esmagamento do "outro" nunca mais parou.
É este desrespeito boçal pelo "outro", a  raíz do sistema capitalista. Do sistema capitalista falido que nos trouxe até ao sec XXI, com a promessa do bem estar para todos, da educação para todos... uma treta gigantesca manipulada pelos abutres,  que passaram a controlar o poder através de uma imensidão de "mecanismos legais".

É claro que as outras culturas, que não abdicaram do seus conceitos de honra, têm dificuldade em entender isto. 
Dói a alma pensar que a cultura árabe que nos trouxe a poesia, a música, a ciência, as artes, o respeito pelo "outro",  (que instituiu sempre enquanto poder,  o respeito pelos outros cultos), foi empurrada para o gueto da violência.
...
Nas minhas aulas de catequese há mais de 50 anos, foi-me dito que as pessoas com a cor de pele negra, tinham a pele dessa cor por terem cometido um  pecado grave, (não especificado) tendo  por isso sido castigadas por Deus.

...ainda  ninguém me pediu desculpa. 

domingo, 18 de novembro de 2012

as palavras



















as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror,
são a grande razão, a única razão.

Eugénio de Andrade
imagem - c o

comentário



















Comentar um belo texto é quase uma necessidade. Por vezes, contudo, não nos ocorrem palavras. Estranhamente, o cérebro parece bloqueado ao mesmo tempo que se instala o desejo de ler e reler o belo texto.
Após seis leituras, percebi porque razão, não era capaz de comentar a história de uma estrela com alma. Há momentos e factos na vida que nascem para ser sentidos...apenas. É injusto tocar-lhes. Diria mesmo sacrilégio. Basta-me pois, o supremo privilegio de sentir uma alma pelas palavras que escreve.

sábado, 17 de novembro de 2012

se fosses luz...



















...- Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!


Eugénio de Andrade in, "Se fosses luz" (excerto)
imagem - c o

faz-se luz
















Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras.
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria,
não dum e doutro lado da luz, mas no próprio seio dela.
Intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem nos nossos olhos.

Por outro lado a sombra dita a luz,
não ilumina realmente os objectos.
Os objectos vivem ás escuras
numa perpétua aurora,
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca.

Mário Cesariny
imagem - c o

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

quero apenas cinco coisas...


















Quero apenas cinco coisas...

Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão
A quinta coisa são os teus olhos
Não quero ser...sem que me olhes.
Abro mão da Primavera 
Para que continues me olhando...

Pablo Neruda
imagem - c o

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

devo fingir que existem...
















Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma  e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir que as armas e a pira
Da epopeia e dos pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura.
Minha ventura, inesgotável, pura.

Jorge Listopad
imagem - c o


i am...








I am a winged creature who is too rarely allowed
to use its wings.
Ecstasies do not occur often enough,


Anais Nin
imagem - Marco Parenti


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

e, ainda que fosse noite...
















....E ainda que fosse noite:
com a tua vinda,
o arco do Senhor
brilhou no horizonte,
vestido de todas as cores,
como a cauda dos pavões

Ibn Hazm, in "Ladrões de Prazer" (Poemas arábico-andaluzes, excerto)
imagem - c o