sábado, 26 de julho de 2014

te necesito


finge...

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingires.
Nada esperes que em ti já não exista.

Ricardo Reis (excerto)

fidelidade

aqui, neste misérrimo desterro
onde nem desterrado estou, habito,
fiel, sem que queira, àquele antigo erro
pelo qual sou proscrito.

Ricardo Reis (excerto)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

divino...






Se o divino existe?!
Claro que existe - dar a volta ao mundo, viajando de comboio. Com uma alma gémea por companhia.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

qualquer música

(...)

Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!


Fernando Pessoa (excerto)


terça-feira, 22 de julho de 2014

a rua, a noite, a luz e a dor.






















a rua,
a noite,
a luz
e a dor.

última hora! :-)

Amanhã vou visitar a minha neta!
Preciso de um abracinho com urgência!
Vamos brincar imenso. Tenho que preparar um conjunto de temas, dado que ela é muito exigente. Um deles será a linguagem gestual. Já tenho uma folha com a sinalética impressa. Creio que vai ser muito sensível a esta questão e ao facto de haver meninos que, por não falarem nem ouvirem, precisam que falemos com eles de forma diferente. Nunca falámos nisto.
É extraordinário para mim, ir dar pela primeira vez este contributo para a sua construção, enquanto ser humano, que eu desejo com toda a minha alma, seja de elevada dimensão. Como as pessoas que me habituei a amar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

amar

"...Amar não é, em principio, nada que possa significar absorver-se em outro ser, nem entregar-se nem unir-se a ele. Pois, o que seria a união entre dois seres inacabados, falhos de luz e liberdade? Amar é antes uma oportunidade, um motivo sublime, que se oferece a cada individuo para amadurecer e chegar a ser algo em si mesmo; para tornar-se um mundo, todo um mundo, por amor a outro."

Ranier Maria Rilke

a doçura que não se prova

O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...


Miguel Torga, in "Antologia Poética"

a doer

a vida não faz sentido,
sem um amor imenso a doer.

domingo, 20 de julho de 2014

poema puro














consome-me
a vontade
de dizer que te amo.

uma vontade imensa,
como a de me extinguir
e adormecer
em ti.

sábado, 19 de julho de 2014

o poder do inconsciente

pudesse,
em teu regaço
depor
uma flor,

e ser, aí,
a minha mão,
flor também.



Segundo André Breton, o amor tem as suas raízes nas profundezas do inconsciente.
E para mim foi extraordinário poder confirmá-lo, ao acordar um dia, de um sono e de um sonho, com este poema no pensamento. Como se lá estivesse há muito tempo gravado. Saí da cama apressado para o escrever, com medo de o perder no esquecimento dos sonhos... Mas, curiosamente, nunca mais o esqueci.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

desespero

Desespero eu aguento.
O que me apavora é essa esperança.


Millôr Fernandes

caçada de palavras e linguagem gestual

Uma pessoa que conheço há muito, apesar de não manter com a mesma nenhuma relação de proximidade, contacta-me e propõe-me duas coisas muito interessantes, na sequência de uma agradável tarde de conversa, em que fazemos uma amostragem mútua dos nossos interesses e preocupações.
Uma das propostas é a revitalização de uma associação dedicada a um escritor admirado por ambos, e algo esquecido, não apenas a nível local, mas também olvidado a nível nacional. Maravilha, portanto! 
Começo imediatamente a imaginar actividades associadas, no sentido de finalmente ser feita justiça à memória coletiva da comunidade, e em simultâneo adaptar atitudes e comportamentos tão caros à dimensão humana, através de ações  conjuntas, numa linha de permanente ligação ao excelente e intenso escritor.
A segunda proposta, é ajudar as poucas funcionárias de uma instituição, a acompanhar um grupo de crianças entre, aproximadamente os 5 e os 14 anos, dando a esse acompanhamento alguma qualidade educacional e de lazer. Outra maravilha!
Claro que aceitei de imediato, entusiasmadíssimo!
Estabelecemos uma divisão do grupo, em dois - um até aos 10 anos e outro de 10 anos para cima.
Fico com o grupo de idade superior a 10 anos.
Conquistar a confiança destas 14 crianças, no sentido de os levar a interessar-se por algo, é um processo moroso. Contudo, à exceção de um caso um pouco mais difícil, consegui que participassem numa "caçada" de 10 palavras, em diferentes páginas de livros que distribuí, tendo-os convidado de seguida a compor uma frase ou pequeno texto com sentido.
E o resultado foi fantástico. Desde respostas com qualidade, ao perfeccionismo de outras, passando pelo desencanto de uma jovem que me informa de imediato ter um défice de imaginação já conhecido na escola, :-), foi uma hora de muita interação e simpatia. Pareceu-me ser um bom mote para "injectar" nestas cabecitas o gosto pelas palavras. Pois se até a simpática dona do défice de imaginação, se surpreendeu a si própria. :-)...
Surgiu-me de imediato uma ideia para o dia seguinte. Algo que me é muito caro e que julgo deveria ser integrado da disciplina de Português - linguagem gestual.
Quando, há uns anos eu viajava diariamente de, e para Lisboa,  ficava  longos períodos na estação dos barcos do Terreiro do Paço, no regresso, a observar grupos de jovens surdos-mudos, que ali se encontravam à tardinha para conversar.
Era impressionante, observar a intensidade e naturalidade da sua comunicação no mundo do silêncio. Sem produzirem um único som, incutiam nos momentos que partilhavam, verdadeiras sonoridades.
Mas voltemos à minha turma. :-)
Com a preciosa ajuda da internet e da dedicação profissional de uma das funcionárias, preparamos 20 folhas com o alfabeto gestual, para tentar levar os jovens a entender a diferença, dialogando entre si gestualmente como os jovens da estação dos barcos, e, simultâneamente abordarem a palavra numa outra perspectiva.
Aguardo ansioso o momento da ação.
Então, eis que a coordenadora chega, e considerando a linguagem gestual, uma coisa menor, como aliás, já tinha considerado a "caçada" de palavras, decide trocar as turmas, como experiência...
Chocou-me o tratamento deste trabalho, como experiência, mas tentei com os mais pequenitos, dar continuidade à ideia da linguagem gestual. Também resultou mas num âmbito mais limitado e com crianças com quem tinha que reiniciar um processo de aquisição de confiança.
Ora bem. Se adicionar a esta "coordenação", uns gritos disciplinadores algo desajustados, sou obrigado a concluir que as motivações da pessoa em causa, são de uma natureza diferente  da minha.
O que me motiva é uma endémica e orgânica vontade de ajudar o outro, não obstante ter o meu tempo e o meu silêncio ocupados.
Do outro lado vejo uma pessoa que procura ansiosamente algo, para preencher o tempo...e o silêncio.
Afasto-me.
Para além do mais, porque entendo que a actividade de acompanhar crianças, deve ser escrupulosamente estruturada, regulamentada e nunca improvisada.








segunda-feira, 14 de julho de 2014

inexoravelmemte













inexoravelmente,
o tempo passa,
perdido,
na perspectiva
de
não ser mais tempo,
de ser,
este momento breve...

fatalidade


incendeiam-me ainda os beijos que não me deste
e cegam-me os acenos que me não fizeste,
da janela irreal onde o teu vulto,
era uma alucinação dos meus sentidos.
mas, decorrida a vida, oculto
nestes versos doridos,
a saber, que não sabes que te amei
e cantei.
e nem mesmo imaginas quem eu sou
e como é solitária e dói a minha humanidade.
em vez de te acusar
e me culpar,
maldigo o arbítrio da fatalidade
que cruelmente nos desencontrou.


Miguel Torga

sábado, 12 de julho de 2014

perfeição

se a perfeição
tivesse forma,
teria:
um ar circunspecto,
uns lábios vermelhos,
uns cabelos sedosos,
umas mãos expressivas,
...de tanta interioridade.

terça-feira, 8 de julho de 2014

a vida não me pertence



















...

E eu amo e penso e sonho e vivo e a minha vida
não me pertence a mim, anda esparsa no ar.
E assim minha existência obscura, indefinida,
é a existência da flor, da água e do luar...


Teixeira de Pascoaes, in "O Homem e o Universo" (excerto)

imperfeição

O meu modo de estar no universo, isto é, a minha cosmogonia, não a consigo enquadrar nas cosmogonias: bíblica, islâmica, budista, suméria, hinduista, etc.
Custa-me aceitar a verdade das convicções por isso mesmo. Por serem verdades.
A verdade é o fim.
A verdade é a morte.
Nada mais existe para além da verdade. E eu amo tanto a vida.
Amo a permanente vontade de, em cada momento, procurar por instinto o equilíbrio à minha volta, não no sentido estético, mas no sentido imperfeito e vivo que há em tudo.
Um recanto de parede branca. Um reflexo no olhar dos meus cães. Uma nova flor nascida durante a noite.
O sabor de um café matinal, tomado em silêncio. Os ovos das galinhas na palha - :-) é uma das imagens do meu imaginário, que me acompanha desde sempre, vá lá saber-se porquê.

São momentos que apetece fotografar, mas de certa forma, fotografar, é matar as coisas.
Tenho que rever a minha paixão por fotografar. Acho que há o perigo de fotografar demasiado e banalizarmos a nossa forma de sentir. Contudo, volto vezes sem conta aos momentos que fotografei, para descobrir novas formas de sentir. Ok, se calhar o que tenho de fazer é tratar o acto de fotografar, como um momento muito intimo. Um momento de procura da imperfeição. Da imperfeição que sustenta o amor...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

sim...talvez.

Como os sistemas eléctricos, que dispõem de acumuladores, para armazenar de forma equilibrada, o excesso de energia produzida e não consumida pelos equipamentos, talvez eu precisasse de um acumulador de amor, para obstar as descargas dolorosas que a todo o momento sinto no peito...e na alma, devido ao amor não consumido, que me consome.

domingo, 6 de julho de 2014

nada de novo

Aquilo que alguma vez pensámos, dissemos ou escrevemos, não o foi certamente  pela primeira vez. Algures no tempo, tudo terá já sido pensado, dito ou escrito, e os seus ecos ficado suspensos na imensidão do espaço. Do cosmos.
Contudo, é tão importante, que as nossas próprias reflexões sobre o sentido da vida, nos façam "descobrir" a todo o momento coisas fantásticas, que nos inundam de uma  plenitude de ser, e guardá-las... num bloco de notas ou num ficheiro de pc, mas principalmente na dimensão infinita da alma.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

desencanto...

Sim, mas quando perdemos o direito a entrar, onde nos habituamos a estar, entendendo e respeitando a sensibilidade, elegância e delicadeza do lugar, invade-nos um amargo, estranho  e triste desencanto... 

teus olhos

um dia,
em teus olhos
castanhos,
chorosos de injustiça,
vi
um reflexo verde,
de promessa
e eternidade.



contemplação

talvez...
não sei.

não sei
que daria eu,
por um olhar.



a dureza da memória

momentos...

suspensos,
retomados,
desejados,
esperados,
adiados...

trémulos
de desejo
e muito,
muito amor...

transparência


...olhar
sentir...
tocar...
são nuvens,
transparentes
de ausência.



quarta-feira, 2 de julho de 2014

terça-feira, 1 de julho de 2014

palavras que beijam





"...o castanho dos teus olhos é mais atlântico que o azul do mar."


não lugares




















habito
não lugares.

os lugares,
esses...
doem-me
de ausência,
e de lonjura.





o tempo e os lugares

percorro
o tempo e os lugares,
com receio,
de encontrar
o que procuro.