quinta-feira, 17 de julho de 2014

caçada de palavras e linguagem gestual

Uma pessoa que conheço há muito, apesar de não manter com a mesma nenhuma relação de proximidade, contacta-me e propõe-me duas coisas muito interessantes, na sequência de uma agradável tarde de conversa, em que fazemos uma amostragem mútua dos nossos interesses e preocupações.
Uma das propostas é a revitalização de uma associação dedicada a um escritor admirado por ambos, e algo esquecido, não apenas a nível local, mas também olvidado a nível nacional. Maravilha, portanto! 
Começo imediatamente a imaginar actividades associadas, no sentido de finalmente ser feita justiça à memória coletiva da comunidade, e em simultâneo adaptar atitudes e comportamentos tão caros à dimensão humana, através de ações  conjuntas, numa linha de permanente ligação ao excelente e intenso escritor.
A segunda proposta, é ajudar as poucas funcionárias de uma instituição, a acompanhar um grupo de crianças entre, aproximadamente os 5 e os 14 anos, dando a esse acompanhamento alguma qualidade educacional e de lazer. Outra maravilha!
Claro que aceitei de imediato, entusiasmadíssimo!
Estabelecemos uma divisão do grupo, em dois - um até aos 10 anos e outro de 10 anos para cima.
Fico com o grupo de idade superior a 10 anos.
Conquistar a confiança destas 14 crianças, no sentido de os levar a interessar-se por algo, é um processo moroso. Contudo, à exceção de um caso um pouco mais difícil, consegui que participassem numa "caçada" de 10 palavras, em diferentes páginas de livros que distribuí, tendo-os convidado de seguida a compor uma frase ou pequeno texto com sentido.
E o resultado foi fantástico. Desde respostas com qualidade, ao perfeccionismo de outras, passando pelo desencanto de uma jovem que me informa de imediato ter um défice de imaginação já conhecido na escola, :-), foi uma hora de muita interação e simpatia. Pareceu-me ser um bom mote para "injectar" nestas cabecitas o gosto pelas palavras. Pois se até a simpática dona do défice de imaginação, se surpreendeu a si própria. :-)...
Surgiu-me de imediato uma ideia para o dia seguinte. Algo que me é muito caro e que julgo deveria ser integrado da disciplina de Português - linguagem gestual.
Quando, há uns anos eu viajava diariamente de, e para Lisboa,  ficava  longos períodos na estação dos barcos do Terreiro do Paço, no regresso, a observar grupos de jovens surdos-mudos, que ali se encontravam à tardinha para conversar.
Era impressionante, observar a intensidade e naturalidade da sua comunicação no mundo do silêncio. Sem produzirem um único som, incutiam nos momentos que partilhavam, verdadeiras sonoridades.
Mas voltemos à minha turma. :-)
Com a preciosa ajuda da internet e da dedicação profissional de uma das funcionárias, preparamos 20 folhas com o alfabeto gestual, para tentar levar os jovens a entender a diferença, dialogando entre si gestualmente como os jovens da estação dos barcos, e, simultâneamente abordarem a palavra numa outra perspectiva.
Aguardo ansioso o momento da ação.
Então, eis que a coordenadora chega, e considerando a linguagem gestual, uma coisa menor, como aliás, já tinha considerado a "caçada" de palavras, decide trocar as turmas, como experiência...
Chocou-me o tratamento deste trabalho, como experiência, mas tentei com os mais pequenitos, dar continuidade à ideia da linguagem gestual. Também resultou mas num âmbito mais limitado e com crianças com quem tinha que reiniciar um processo de aquisição de confiança.
Ora bem. Se adicionar a esta "coordenação", uns gritos disciplinadores algo desajustados, sou obrigado a concluir que as motivações da pessoa em causa, são de uma natureza diferente  da minha.
O que me motiva é uma endémica e orgânica vontade de ajudar o outro, não obstante ter o meu tempo e o meu silêncio ocupados.
Do outro lado vejo uma pessoa que procura ansiosamente algo, para preencher o tempo...e o silêncio.
Afasto-me.
Para além do mais, porque entendo que a actividade de acompanhar crianças, deve ser escrupulosamente estruturada, regulamentada e nunca improvisada.








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