quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

libertação

E que as lágrimas libertem e dêem forças, para continuar a dar-me aos afectos.

sábado, 27 de dezembro de 2014

quedarme

mi táctica és
quedarme
en tu recuerdo
no sé cómo
ni sé con que pretexto
pero quedarme en ti

Mário Benedetti

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

una religión...

enamorarse
es crear una religión
cuyo dios és falible

Jorge Luís Borges

por completo

Somos pocos os que tenemos el valor suficiente para enamorarnos por completo sin que la otra parte nos anime a ello.

Jane Austen

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

cómplice

Todos necesitamos alguna vez
un cómplice,
alguien que nos ayude
a usar el corazón.


Mário Benedetti

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

apressa-te
















Não te fies no tempo nem na eternidade,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, meu amor...


Cecília Meireles (excerto)

domingo, 14 de dezembro de 2014

cuatro años

durante cuatro años
él le reiteró su amor,
y ella encontró siempre
la manera de rechazarlo
sin herirlo,
porque aunque no conseguía quererlo
ya no podia vivir sin él.

Gabriel Garcia Marquez, in "Cien años de soledad"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

pós-modernidade

As desilusões causadas pelos outros por certo continuarão a fazer parte da minha vida. 
Ele há tanta gente... E se eu andar por cá, ainda algum tempo...não  tenho forma de os evitar.
Apenas me sinto imunizado contra aqueles que já me desiludiram. É uma espécie de vacina de dor e mágoa que me mantém desperto.
Trata-se de uma questão que ilustra na perfeição a fragilidade das atitudes e dos vínculos, da pós-modernidade de que fala Zygmunt Bauman, e que quero recusar até à hora da morte. 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

era uma vez...

Era uma vez, uma pequena e muito antiga povoação da planície.
Uma povoação ajustada no tempo, construída algures na idade romana, islâmica, pombalina e modernidade do séc XIX.
As ruas da povoação construídas com perfis adequados a veículos de tracção animal, bem como à deslocação a pé, viram chegar nos finais do séc XX, o automóvel.
Este intruso, em parceria que com a da mecanização agrícola, acelerou ao desaparecimento dos nostálgicos veículos de tracção animal, donos do tempo e do espaço.
Paulatinamente, o império automóvel trocou o prazer social de caminhar, pela a ansiedade.
Caminhar pelas ruas da pequena povoação, tornou-se, por isso, algo a que está associado um importante factor de risco, apesar de estarmos a falar de um povoado que se pode atravessar a pé, em 10 minutos.
Actualmente, qualquer urbe, tem ruas de trânsito condicionado ou proibido, no sentido de devolver o tempo à comunidade.
Na verdade, quanto mais depressa se vive, menos se vive...

terça-feira, 25 de novembro de 2014

wings of desire


meu jardim

Meu jardim tem uma fonte,
e a fonte uma quimera,
e a quimera um amante,
que agoniza de tristeza.


Juan Ramón Jimenez, in "Àrias Tristes"

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

áspera rocha

Amo-te tanto.
Poeta já não sou.
Nem mesmo amante.
Na minha estrela sem luz
existe um medo maior
do que perder-te.
Te amar pressentindo e renascendo
áspera rocha... fonte...


Hilda Hilst

sábado, 15 de novembro de 2014

salvação




Se for possível amar alguém apaixonadamente, então a vida tem salvação. Ainda que não seja possível reunir-mo-nos com tal pessoa.


Haruki Murakami

domingo, 9 de novembro de 2014

a tua vinda

a tua vinda,
agita-me
o sossego
que não desejo,
nem tenho.

sábado, 8 de novembro de 2014

amar


(...)
Quando eu era jovem discordava da afirmativa de Nelson Rodrigues: “Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor”. Entendia que o amor necessitava de presença, toque, sexo, beijos. Hoje minhas retinas refletidas e vividas, permitem-me compreender: Há o amor de querer bem, não importa o fim, segue-se, sim, amando.

Luciana Chardelli


© obvious: http://lounge.obviousmag.org/luciana_chardelli/2014/11/do-amor.html#ixzz3ITVSfSpZ 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

balada do festival

Haste pensativa e débil
da rosa que tenho na memória.
Te pareces comigo na efémera vontade 
de ser mais vida e menos morte.
Só nos falta o amor. Grande. Sem mácula.
O poema infinito para mim, 
a eternidade para a tua rosa.


Hilda Hist

nada garante que tu existas




























Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas

David Mourão-Ferreira, in "Obra Poética"

terça-feira, 4 de novembro de 2014

sem cessar...

...
sem cessar, percorro os céus com os olhos
a tentar ver a estrela que estás contemplando.


Abu Bakr al-Turtusi, in "Ladrões de Prazer" (excerto) poemas arábico-andaluzes

denúncia

...

Éramos,
no coração das trevas,
dois segredos
até que a língua da aurora
estava prestes
a denunciar-nos.


Ibn Zaydun, in "Ladrões de Prazer", (excerto) poemas arábico-andaluzes

lembrança

...

Tudo excita a lembrança
da minha paixão por ti
que nunca abandona meu peito
por melhor que eu o feche.


Ibn Zaydun, in "Ladrões de Prazer" (excerto) Poemas arábico-andaluzes

domingo, 2 de novembro de 2014

outras angústias

sensação estranha,
que,
nocivas,
inócuas,
razões,
afastem
o lugar,
inteligente,
livre,
sensível,
elegante,
onde senti
e me senti.

sábado, 1 de novembro de 2014

incontornável

Tudo aquilo em que ponho afeto fica mais rico e me devora.

Ranier Maria Rilke




será que...

Será que afinal, ao contrário o que julgava, uma verdade que nos enche a alma, não é uma verdade eterna.
Sinto-me confuso.
Suspeito que, incompreensivelmente, não sou bem vindo, a um espaço onde fui, durante muito... muito tempo,  respeitado e gentilmente tratado.
Uma suspeita que não entendo e que ficará dolorosamente, envolta na escuridão da dúvida, para sempre.
Estou sempre à procura do lado bonito das pessoas, daí que tenha uma enorme dificuldade de identificar seu outro lado.
E depois, tenho o defeito de não entender, palavras indirectamente orientadas na minha direcção.
Sempre me pautei pela frontalidade, pelo que, insinuação, é um conceito que não faz parte do meu léxico.
Resta-me o canto onde vou ficar comigo. Este.
As minhas palavras, as minhas emoções, os meus sentimentos, merecem-me respeito.


enfim...

Tenho alguma alguma dificuldade, para não dizer - imensa dificuldade - em interagir com gente boçal.
Podem não ser particularmente ofensivos. Ok. Mas a sua exuberância irrita-me. Por isso quero ter o direito de dizer - Não! Ao seu convívio..
Não quero, nem tenho nada para dizer a este tipo de pessoas. Exibam-se, divirtam-se, mas por favor, não me chateiem.
Na verdade, não é muito difícil evitar o contacto e consequentemente, o indesejável efeito. A maior parte destes períodos, ajo com a maior indiferença, para com a generalidade de quem me rodeia, por imperativos da vida social, numa atitude de auto defesa e de sobrevivência. Esta atitude, contudo, tem custos, tipo: sacos de lixo anónimos junto à porta, descargas de entulho ilegais no meu espaço agrícola, pneus furados. Mas pronto. Dou isso de barato. Já tenho idade suficiente e um fascínio tão grande pela vida, que este tipo de coisas não irá ter o efeito pretendido. Não passam de "trocos".
O meu grande problema, surge quando sinto aqueles que amo, ao dispor do referido "bando", que existe em todas as tonalidades e quadrantes. E se a isto adicionar o facto, de que a generalidade das pessoas não passa de "vaidade e fumo" e nada difere da boçalidade... dói tudo em mim, de impotência e revolta.

divago...

não tenho saudades
da pide,
dos bufos,
dos serões/seca,
de salazar,
das conversas,
marcelistas,
da pobreza intelectual,
do pensamento único,
do nada...


volvidos 
40 anos, 
rodeia-me o desencanto
a desilusão, 
com que diariamente, 
luto para que não encontrem 
reflexo, 
em mim. 

tudo mudou, 
para que tudo, continuasse.

o pensamento único, vestiu-se 
de uma diversidade virtual...
colorida... 

apenas resiste, 
autêntica, 
a dor.

celebremos a dor.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

oposição

" O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença. "


Érico Veríssimo

terça-feira, 28 de outubro de 2014

o dia do combatente I

"Celebro" amargamente todos os dias, as mensagens "Zulu" com códigos de aflição, pedindo os helicópteros que resgataram a morte, numa guerra suja em causa alheia, e que outros teatralizam em nome dos "actos heróicos" ao serviço de uma pátria podre.
Sinto dor e vergonha, pelos que ficaram cegos pela "limpeza" das bombas de napalm.

domingo, 26 de outubro de 2014

o vazio

A perspectiva de algo que muito desejamos, acontecer, retira-nos a capacidade de pensar.
Por trás, em contraponto, espreita o seu inverso. A negação...a dolorosa inexistência... o vazio.

sábado, 25 de outubro de 2014

deserto

insaciável
a sede
que perdura
no tempo
e no espaço
de um inóspito
deserto.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

texto ingénuo

Lembro-me de, na infância e adolescência, chorar perturbado pelos efeitos da maldade e da pobreza sobre os seres humanos em todo o mundo. Aliviava-me contudo, pensar que era inevitável que um dia acabassem, porque não fazia sentido que as pessoas más não fossem diminuindo progressivamente. 
50 anos volvidos, maldade, pobreza, pessoas más, aumentaram assustadora e descontroladamente. 
Na minha pequena comunidade há gente com fome a rebuscar diariamente nos contentores do lixo. Sinto a alma paralisada de angústia.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ombro nu

foi num sonho
alucinado e breve
que
beijei
o teu ombro nu.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Adeus Bolota, querida amiga! :-(





Guardarei para sempre, 9 anos de afeto exuberante, diálogos silenciosos e muita gratidão.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

momento especial

É um momento especial, aquele em que o "outro" decide cuidar de si próprio, buscando a felicidade que as "pequenas" coisas da vida podem dar. A distância, a lonjura, o  desapego, não impedem de sentir intensamente o que não me pertence.

o azul do sol

e o sol não encontra a terra do teu corpo,
para nela plantar o seu fogo azul.


Nuno Júdice, in poema "Dupla Respiração"

terça-feira, 7 de outubro de 2014

não devo, não posso, nem quero.

não devo,
não posso,
nem quero,
amar-te.
mas
o amor,
insensível
à minha vontade,
devora-me o tempo,
a alma...
e o corpo.

a minha musa

a minha musa é cruel para mim,
mas eu não tenho outra.

autor não desconhecido, do qual não me lembro o nome.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

a mágoa

o rosto
cansado
e triste,
acende
uma mágoa
imensa,
por não sentir
contigo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

pertencem-me

pertencem-me
por direito,
o teu silêncio
e a tua ausência.

o cantar doce das rolas

o cantar doce
das rolas,
pinta o silêncio
do jardim...

o teu silêncio,
amor.


sábado, 27 de setembro de 2014

soletro-te

num turbilhão
de sílabas,

soletro

a tua imagem,
o teu nome,
as tuas mãos,
o teu sorriso,
os teus olhos,
a tua boca...

és o meu léxico.

domingo, 21 de setembro de 2014

às dez

e de quando
em vez
às dez
soasse
voz
de um beijo
soletrando o amor.

sábado, 20 de setembro de 2014

inunda-me

as palavras
pouco dizem,

da alegria
de
sentir,

o teu perfume,

inundar-me
o espaço,
o tempo,
a alma.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

ode breve

gostava tanto
de te ver
aqui,

de novo.

chamando-me
de viva voz.

como que recitando,
uma breve,

muito breve

ode,
só de amor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

amar e calar

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

sim, eu sei

sim,
eu sei.
mas então...
como explicar
que a lonjura,
me encha
a alma
de ti?!...


domingo, 14 de setembro de 2014

assustador...

Se alguém começar a odiar uma coisa amada, de modo a que o Amor seja totalmente abolido, persegui-la-à com um ódio ainda maior, como se nunca a tivesse amado e tanto maior, quanto maior o Amor tiver sido.

Espinoza

sábado, 13 de setembro de 2014

a porta aberta

a porta
aberta
deixa-me tonto
e paralisado
de emoção.

mas,
conter,
é a ordem consciente
a um inconsciente,
devastado

pela tentação,
que me contamina
todo o corpo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

a justiça do tempo

Para Lispector, "não há como a liberdade do não entendimento. Não entendemos, mas temos a liberdade de estar fora da dimensão humana".
Mas que dizer, quando o não entendimento está ligado profundamente à uma inexplicável e improvável ruptura,  entre dois seres unidos por uma simbiose de entendimento? Dois seres a quem é muito cara, a elevação da dimensão humana? Em suma - duas almas gémeas?
A minha fé está associada ao tempo. E é na justiça do tempo que me apoio, porque não tenho fé na injustiça e porque apenas desejo... entender. 
...Nada mais.

a minha paz

Verificar que afinal não existe a dimensão humana, onde julgávamos existir, pode trazer um incognoscível alívio aos sofrimentos da alma. Contudo, prevalecendo a dúvida, prevalecerá uma dor, cada vez mais antiga.
Mas... sim! Tenho junto a mim, mesmo na distância, uma pessoinha terna, atenta e expectante, alegre, inteligente e marota, que me inunda de paz. A minha neta.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

pedras

a calçada de pedras
irregulares,
centenárias no local
milenares na alma
fascina o andar.

pedras com
memória.

pedras
colocadas
com ternura,
sem arestas,
respeitando
a forma
e a harmonia
de cada uma.

pedras eternas
e únicas a que,
lentamente,
outros pavimentos
arrancarão
a alma.

acordes

são acordes
de
uma cíclica
e alucinada
partitura
repetidos
numa conjugação
de
pretérito presente
ou
presente pretérito
sem futuro...
sem verbo...

domingo, 7 de setembro de 2014

um breve passeio

Mais um dia de euforia. Há forasteiros mal educados e velhos conhecidos por todo o lado. Os segundos são mais difíceis. Alguns, ou deles não me lembro, ou disfarçam uma intimidade que nunca tiveram. Toda a gente quer ser notada. O vazio e a boçalidade crescem proporcionalmente à medida do som e da loucura da festa. Deixam-me pena dois concertos, mas a experiência diz-me que teria de "pagar" muito para assistir. Vale-me sair pontualmente de manhã bem cedo, para um breve passeio. 

ansiedades

se não estou
insónia-me
a mordedura
da ausência
e do desejo.
mas se estou
é a imponderável
plenitude
e o mal estar
inexplicável
do impossível
que corrói.

sábado, 6 de setembro de 2014

de desilusão em desilusão

Este país à beira mar plantado é um país de desportistas, como o demonstra o melhor futebolista do mundo.
 - Só esse?
Sim, só esse. Não chega?
 - Então e os outros?
Ah, os outros apreciam desporto sentados em frente à televisão. Praticam desporto, olhando e bebendo umas cervejas...
 - Mas...e nos outros desportos?
Bem, há alguns bons praticantes, de desportos sem jeito nenhum, que lutam a vida inteira, contra tudo e contra todos, para poderem praticar o desporto de que gostam. Mas ninguém liga a isso.
 - Quer dizer que, a esmagadora maioria da população não pratica nenhum desporto...
Exactamente!
Hum...isso faz-me lembrar o que se passa com o humor e com o sentido de humor. Começo a entender o Miguel Unamuno, quando diz que "os portugueses são um povo triste até quando ri"...
Com receio de viver, agarram-se ferozmente às tradições. Algumas já deixaram de fazer sentido e começam a arrastar-se penosamente, como a da tortura pública de animais, como divertimento.

mais quente que o desespero

Achei durante muito tempo, que a única verdade incontornável, era a morte. Mas não. Há outra verdade incontornável, que me habita o sonho, o sono, o dia, a noite e todas as palavras que digo e não digo. O amor. O amor, maior que a dor, mais quente que o desespero.

domingo, 31 de agosto de 2014

jamás lo sabrás

jamás lo sabrás.

lo que en mi creaste
lo que en mi dejaste
lo que voy a guardar
bien fondo
en mi.
inaccesible
a ningúno
profano toque.
en el miedo permanente
a perder el nada,
que es  tanto...

jamás lo sabrás.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

amor descartável...

Se podemos despir o amor, como se fosse um qualquer vestuário?!
Sim. É possível, se for um amor incauto, efémero, colorido...
Um amor amor... um amor de alma, intenso?! Não. Esse amor,  não é possível despir, tirar do corpo. Esse amor, dura e dói até à morte. Esse amor acompanha-nos como um amigo fiel para sempre. Esse amor, faz de nós a força que somos, e por isso não tem que ser dramático.
Na verdade, liberta a nossa alma para que ame. Intensamente. Infinitamente.

A ideia de poder ser portador de um amor descartável, é uma ideia assustadora. Contudo a dor e a capacidade de amar, protegem desse verdadeiro frio na alma. A dor e a capacidade de amar, não são mais que a nossa identidade, a par do nome e da impressão digital, e por isso nos mantêm vivos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

bastaria

bastaria,
um gentil
e breve
olhar,
para que
os dias,
se atropelassem...

que bonita, a dignidade...

que bonita,
a dignidade
de reconhecer,
respeitar,
desejar
e recusar
o amor...


sábado, 23 de agosto de 2014

o dramatismo do afeto

Continua a haver gente, muita gente, que ama, ou julga amar, sem saber o que é o amor.
Desconhecem em primeiro lugar, que amar pressupõe preservar o "outro", na sua totalidade, isto é, recusar tudo aquilo que possa de algum modo causar dano ou mágoa incontornáveis.
Fico muito grato à perspectiva antropológica que muito me tem ajudado a entender que, amar o "outro" significa respeitar o seu mundo e a sua intimidade, mesmo que isso obrigue a amar na ausência, no silêncio.
Amar é, no meu entender, uma função da alma, tão natural como a respiração. É um acto instintivo, inconsciente, não obstante ser depois trabalhado, pensado, sentido, chorado, como o poema. É um momento belo e natural que não tem que ter nenhuma carga dramática, simplesmente porque não é preciso "matar" o amor, nem magoar ninguém.
O dramatismo está sim, na perspectiva cultural que arrasta para todo o lado este anátema do amor, colocando questões incontornáveis, que vão muito para além do pecado, a ponto de enxergar o pecado onde ele não existe. Porque esse espaço está apenas preenchido por AFECTO. 
Às vezes penso, que o mundo não tem capacidade para absorver, a enorme quantidade de amor que sinto na alma. Amar outras almas com toda a alma. Simplesmente. Mas não. Não é possível. 
Há pessoas por esse mundo fora, ora felizes, ora infelizes, ora alegres, ora tristes, procurando o que está dentro de si.
Dado que a felicidade é fugaz e efémera, não me interessa ser feliz. Prefiro estar bem, muito bem comigo.

Platão e o Amor

Chamo mau amante ao amante vulgar, que mais ama o corpo do que o espírito, porque este amor não é durável, uma vez que se prende a uma coisa sem perenidade e, quando a flor da beleza, que amou, envelhece, o amante evola-se e desaparece, traindo as suas promessas,  enquanto que o amante de uma bela alma se mantém fiel toda a vida, porque se uniu a uma coisa perene.


Platão, in "O Simpósio, ou do Amor" (excerto do discurso de Pausânias sobre o deus Eros)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

fronteiras

No tempo, no espaço, no pensamento, as fronteiras existem. Mas "pedem-nos" uma reformulação constante, para não "morremos emparedados".
Em criança percorria, caminhando com a minha avó camponesa, distâncias por entre - planície, montado, ribeiros - e o tempo, o espaço, o pensamento nunca nos barraram o caminho. Não faz. sentido que o façam agora.
Suponho que uma reformulação do pensamento, passa pela reformulação da relação com o tempo, alucinado e escravizante, por forma a interpretá-lo de maneira cíclica e não linear.

homeless



















E se, ser homeless, fosse condição para ter a ternura, a dedicação e o respeito, de um ser incapaz de branquear afetos e emoções?!



domingo, 17 de agosto de 2014

quien iba a decir?...

Qien iba a decir...Que las cosas ya no iban a ser igual, y que de pronto,
ya nada nunca lo iba a ser?
Quien iba a decir?
Que muero todos los dias porque te sueño y quando dispierto no te encuentro,
y el mismo día vivo porque andas por allí con mis sueños bajo el brazo?
Quien iba a decir?
Que serias tú el sueño que tengo y que en insomnios me hace falta.
Quien pensaría, que sería eso la razón porque te busco en todos lados.
Caminar por caminar.
Tú mi razón. Ya no por vagar.
Quien lo iba a decir?
Que andabas por allí...
Que andabas siendo la razón por la que ya jamás vería nada igual.
Que andabas siendo mis sueños.
Que andabas siendo mis razons y locuras.
Que andabas siendo mi mundo entero, en el que pierdo delirando al illegar a alguna esquina.
Quien iba a decir?
Que serías lo más bonito
Que lo serías todo.
Que serías.
Que por ti soy.
Y quien iba a decir?
Que alguna vez...yo sería?


Danny Bonilla

...tengo que besarte!

imagino tus ojos
e la piel se me eriza
son las doce en punto
y mi espíritu aterriza,
te miro delante
y se me agota el tiempo
...tengo que besarte!
...Oh, tengo que besarte, amor!


Amanda Cobar



sábado, 16 de agosto de 2014

a voz da memória

pudesse,
a voz
da memória,
navegar
num caudal
de palavras,
e confortar-me
a alma,
com a
delicadeza
de um
cetim azul...

o humor

O drama dos humoristas é precisarem sempre de um "outro" para (como dizem os brasileiros) "chingar".
Os únicos humoristas que "chingam" consigo próprios, sem magoar ninguém, (coisa que eu entendo como verdadeira arte) são o palhaço, e o mímico.
Um e outro conseguem divertir e comover em silêncio, transmitindo à sua função uma importância sociocultural imensa, ao contrário dos restantes humoristas, cuja actuação chega a ser brutal, assustadora...angustiante.
O palhaço e o mímico fazem pensar, através de uma atitude delicada, tão natural quanto necessária ao comportamento humano.

O pilar do aspecto nefasto do humorismo, é uma tendência, diria cultural, das pessoas, que consiste em eleger um elemento de alguma forma frágil, e assestar todo o tipo de piadas na sua direcção. Trata-se de uma atitude comum a crianças, adolescentes, jovens adultos, adultos e idosos. 
Só entendo esta atitude, como reflexo de uma pobreza sociocultural muito grande, que provoca um comportamento usual, a todos os níveis patológico

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

saudades

Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.


Fernando Pessoa

subjetividades

A percepção da realidade, não nos é dada pelos acontecimentos de grande carga emotiva, seja do ponto de vista festivo, seja do ponto de vista dramático, ou outro.  
São as pequenas coisas que nos permitem ler com clareza aquilo que nos envolve.
1º exemplo:
Após o meu treino diário de natação, dirijo-me para o balneário para o habitual duche. No local já se encontra outro adulto, que, em espera, aguarda pacientemente que um grupo de seis rapazes, entre os 8 e 10 anos, termine de saborear a água quente, imóveis sob os chuveiros. De vez em quando olham de soslaio os dois utentes que, de gel de banho em punho, aguardam.
A certa altura, o meu companheiro de espera pergunta se alguém nos pode dispensar um chuveiro. Um dos jovens cede então o seu, o que permite que resolvamos o nosso problema. 
Um episódio engraçado, reconheço, mas, porque o olhei com alguma atenção, me deixou indicações um tanto preocupantes.
O olhar dos jovens é indiferente, vazio. Não se dão conta de que estão a promover uma atitude deseducada e anti-social para com os outros. Mas, ao mesmo tempo, é notório que não estão a agir em consciência. Estão simplesmente a agir por instinto. Não sabem o que estão a fazer. 
Há uma lacuna evidente: a falta de orientação, da  responsabilidade dos pais, numa fase importantíssima do crescimento e formação das crianças, enquanto seres humanos.
A área de intervenção paternal, na mentalidade em construção destas crianças, está desocupada. É clara e evidente a ausência dos pais.
2º exemplo: 
À esplanada da mesma infraestrutura, onde me encontro a tomar café, chega uma jovem deste escalão etário, acompanhada pela progenitora. Enquanto a mãe toma café ao balcão, a criança afasta-se alguns metros e fica a olhar calma e atentamente ao redor. Tem uma postura natural, correta, segura de si. A certa altura regressa junto da mãe, a quem terá pedido autorização para se afastar um pouco. Concedida a autorização, afasta-se caminhando com naturalidade, julgo que para ver de perto ou cumprimentar algum amigo, após o que regressa para junto da mãe.
É claro que neste segundo exemplo, existe uma clara e evidente presença (que não apenas, física) dos pais. A postura e atitude da criança, denunciam a preocupação deste tipo de pais pela sua formação e crescimento, mantendo por certo, permanentemente acesa, uma  relação de afeto e cumplicidade, absolutamente fundamental.

Dois momentos anónimos, dir-se-á, dois grãos de poeira na imensidão do cosmos.
Contudo, representam o momento certo da intervenção, para a transformação das mentalidades e do mundo, que o tempo requer.



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

amazing!...

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
e ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo, tremo. Não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Fernando Pessoa 

liminaridade

amar
exige coragem.
coragem de ser
e não ter.
coragem
de aceitar
a liminaridade eterna,
do desejo
do afeto
...da paixão.

esta infinita vontade

Esta
infinita
vontade
de amar,
que me atordoa...

guardarei

Guardarei 
para sempre, 
as angústias e os medos 
que partilhaste comigo. 
Angústias e medos 
que cobri de afeto e ternura, 
em diálogos 
de confiança. 

Medo de perder-te, já não tenho. 
Perdi-te. 

Ficará, 
agora maior do que nunca, 
o medo 
que o mundo ignóbil 
te magoe a alma generosa,
sem mim...

a um ausente














Tenho razão para sentir saudade,
tenho razão para te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo, sem consulta, sem provocação,
até ao limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo as nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave,
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar,
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza,
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

e...no dia dos poetas mortos

nunca dou
quase tudo.

tudo, 
é o que sou.
tudo,
é o que dou.

nada, 
é o que sou.
nada,
é o que tenho.

que não me faltem
as forças
e a redenção,
do pranto.

deficiência mental

É deficiente mental, (ao que consta). Conhece-mo-nos há quase 50 anos.
A comunidade interage com ele de forma brejeira, por regra. Por vezes algo exagerada.
Conversamos pontualmente. Sempre revelou uma sensibilidade invulgar. Contaram-me que por vezes, à noite, grita revoltado por algum tratamento menos correto, de que foi vitima durante o dia.
Quando nos cruzamos durante os nossos passeios solitários, cumprimenta sempre com um sorriso e na altura das largadas de touros recomenda-me repetidamente: "não vá para as largadas. É muito perigoso. Os touros têm muita força e podem matá-lo".
Já nos temos cruzado, e, absorto nalgum pensamento, trás um olhar frio e duro. Mas basta que o cumprimente com um - "então?!" - para que o rosto se abra num sorriso.
Não duvido que este ser humano tem um interior, quem sabe inóspito, "trabalhado" ao longo de muitos anos por uma sociedade especializada em colocar anátemas naquilo que não compreende, mas tem também um interior que conhece a tristeza, a alegria, a revolta, a gratidão, a dor...
Noutro plano, e curiosamente, cumpre tarefas de rotina com um notável sentido de responsabilidade, como que agradecido pela confiança e partilha que lhe concedem. 
Ora bem - estamos perante alguém responsável, sensível, preocupado, (à sua maneira e isso deve ser respeitado) que a sociedade considera deficiente mental. Notável sociedade! :-( 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

si pudiera...

si pudiera te besaría hasta la voz.


Diego Gaitan

e de repente.

e de repente, 
a doce solidão explode,
em estilhaços
de amargo sossego.



domingo, 10 de agosto de 2014

tristeza, alegria, gratidão.

A verdade acontece de madrugada, no silêncio das ruas.
Uma cadela de rua, abandonada naturalmente (e contra isso já nada há para dizer), vagueia à procura de comida, suponho. Tem um olhar vazio, indiferente. Vou a casa buscar água e comida que lhe levo. Observa-me à distância. Não me conhece e as experiências com humanos, aconselham prudência. Sempre falando com ela, sirvo-a e afasto-me um pouco, para que se sinta mais confortável. Aproxima-se e bebe demoradamente enquanto observo. Volto a indicar-lhe a comida, mas não tem fome. Senta-se e fita-me com o olhar triste, mas agora, atento. Não me tinha dado conta da expressividade do seu olhar, não obstante a experiência com os meus bichos - tenho duas cadelas, uma gata e um cão, sem contar com mais uma cadela e um cão, pertencentes à família e que me visitam regularmente. Tenho a certeza que olhar já não é vazio e indiferente.
Retiro-me. Nesse momento a cadela levanta-se e corre para mim abanando a cauda. Senta-se de novo e pede-me a mão com o olhar. Dou-lhe a mão, que lambe delicadamente. Retribuo com uma carícia, que lhe provoca um frémito de alegria e gratidão, e faz questão de me acompanhar até a casa, após o que regressou...não sei para onde.
Histórias como esta, há muitas. 
Contudo, permite constatar, que sentimentos como, tristeza, alegria, gratidão, pertencerão ao domínio instintivo, evidência que a espécie mais inteligente de todas,  procura insistentemente "corrigir". Tal é o pavor que lhe inspiram os sentimentos.

sábado, 9 de agosto de 2014

o nome

E se de repente ficássemos sem nome?! E aqueles que amamos, ficassem sem nome também?!
É sufocante, imaginar que tal aconteceria.
Na verdade, o nome é a nossa primeira pele, a nossa identidade, a nossa força, o nosso apoio, a nossa essência. 
Sem nome, ficaríamos gravemente mutilados. 
Não é então por acaso, que estremecemos de emoção, ao pronunciarmos, ao ouvirmos, lermos ou escrevermos o nome de quem amamos e que, também ele, faz parte do que somos.

preconceito


não é amor?!

proibido,
improvável,
insensato,
pecador,
indiferente 
ao tempo
e à dor...

não é amor?!

é!
é amor!
o maior de todos os amores!


Época triste a nossa...
Mais fácil quebrar um átomo, do que um preconceito.

Albert Einstein

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

full of tears


catarse




imagem - Geof Kern


Como fazer uma catarse, enquanto processo de libertação da alma, da paixão que a consome, com a visão dessa paixão em permanência na alma?!

contemplações da alma

as contemplações
a que
me sujeitas
a alma,
são apenas...
insustentáveis.

põem a nu
fragilidades,
que
em mim
desconhecia.

e,
instala-se
em todo
o corpo
um agridoce
nervosismo,
que me mata.

muita ternura

seria
um espasmo
de ternura,

muita ternura,

doce,
profunda...

numa amalgama
de suor e beijos,
até
à insustentável
exaustão,
da alma.

despes-me a alma

despes-me a alma.

sem ti
nada é.

em mim,
tudo chora,
da mágoa,
desejo,
plenitude
e ansiedade.
com que
cubro de beijos,

tudo
o que 
te lembre.



terça-feira, 5 de agosto de 2014

alegoria

A alegoria duma primavera intensa
hoje morta, vivida, sonhada
entre clarins e tambores batendo
no ritmo sincopado do sangue.
Uma festa marcada para o crepúsculo,
hoje, amanhã, depois e sempre
adiada, nunca consentida,
e todavia urgente, e todavia necessária.


Albano Martins, in "Assim são as algas" 

mar de verão

No verão cinzento,
cinzenta era a alegria,
azul a cor
da melancolia.

Quem me prometia o mar,
se dar-mo não podia?


Albano Martins, in "Assim são as algas"

fecundação

Uma espada de beijos trespassar-te-á
de encontro às muralhas do medo,
quando o desejo abrir as suas válvulas
e o botão dos teus sentidos desabrochar.


Albano Martins, in "Assim são as algas"

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

favos de som

favos de som.
e a doce flauta ondeante
esgota o sopro no fio interminável.

ilimitada, a capacidade de amar.

porque se esconde então o melhor mel
na simetria fechada da colmeia?


Luísa Freire, in "Verde-Nunca"

plenitudes...

também é
plenitude,
o pranto
de silêncio,
apertado no peito.

sábado, 2 de agosto de 2014

mais que a dor

dói mais
que a dor,
esta
insustentável
mágoa,
de ser,
sem ti...

sábado, 26 de julho de 2014

te necesito


finge...

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingires.
Nada esperes que em ti já não exista.

Ricardo Reis (excerto)

fidelidade

aqui, neste misérrimo desterro
onde nem desterrado estou, habito,
fiel, sem que queira, àquele antigo erro
pelo qual sou proscrito.

Ricardo Reis (excerto)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

divino...






Se o divino existe?!
Claro que existe - dar a volta ao mundo, viajando de comboio. Com uma alma gémea por companhia.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

qualquer música

(...)

Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!


Fernando Pessoa (excerto)


terça-feira, 22 de julho de 2014

a rua, a noite, a luz e a dor.






















a rua,
a noite,
a luz
e a dor.

última hora! :-)

Amanhã vou visitar a minha neta!
Preciso de um abracinho com urgência!
Vamos brincar imenso. Tenho que preparar um conjunto de temas, dado que ela é muito exigente. Um deles será a linguagem gestual. Já tenho uma folha com a sinalética impressa. Creio que vai ser muito sensível a esta questão e ao facto de haver meninos que, por não falarem nem ouvirem, precisam que falemos com eles de forma diferente. Nunca falámos nisto.
É extraordinário para mim, ir dar pela primeira vez este contributo para a sua construção, enquanto ser humano, que eu desejo com toda a minha alma, seja de elevada dimensão. Como as pessoas que me habituei a amar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

amar

"...Amar não é, em principio, nada que possa significar absorver-se em outro ser, nem entregar-se nem unir-se a ele. Pois, o que seria a união entre dois seres inacabados, falhos de luz e liberdade? Amar é antes uma oportunidade, um motivo sublime, que se oferece a cada individuo para amadurecer e chegar a ser algo em si mesmo; para tornar-se um mundo, todo um mundo, por amor a outro."

Ranier Maria Rilke

a doçura que não se prova

O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...


Miguel Torga, in "Antologia Poética"

a doer

a vida não faz sentido,
sem um amor imenso a doer.

domingo, 20 de julho de 2014

poema puro














consome-me
a vontade
de dizer que te amo.

uma vontade imensa,
como a de me extinguir
e adormecer
em ti.

sábado, 19 de julho de 2014

o poder do inconsciente

pudesse,
em teu regaço
depor
uma flor,

e ser, aí,
a minha mão,
flor também.



Segundo André Breton, o amor tem as suas raízes nas profundezas do inconsciente.
E para mim foi extraordinário poder confirmá-lo, ao acordar um dia, de um sono e de um sonho, com este poema no pensamento. Como se lá estivesse há muito tempo gravado. Saí da cama apressado para o escrever, com medo de o perder no esquecimento dos sonhos... Mas, curiosamente, nunca mais o esqueci.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

desespero

Desespero eu aguento.
O que me apavora é essa esperança.


Millôr Fernandes

caçada de palavras e linguagem gestual

Uma pessoa que conheço há muito, apesar de não manter com a mesma nenhuma relação de proximidade, contacta-me e propõe-me duas coisas muito interessantes, na sequência de uma agradável tarde de conversa, em que fazemos uma amostragem mútua dos nossos interesses e preocupações.
Uma das propostas é a revitalização de uma associação dedicada a um escritor admirado por ambos, e algo esquecido, não apenas a nível local, mas também olvidado a nível nacional. Maravilha, portanto! 
Começo imediatamente a imaginar actividades associadas, no sentido de finalmente ser feita justiça à memória coletiva da comunidade, e em simultâneo adaptar atitudes e comportamentos tão caros à dimensão humana, através de ações  conjuntas, numa linha de permanente ligação ao excelente e intenso escritor.
A segunda proposta, é ajudar as poucas funcionárias de uma instituição, a acompanhar um grupo de crianças entre, aproximadamente os 5 e os 14 anos, dando a esse acompanhamento alguma qualidade educacional e de lazer. Outra maravilha!
Claro que aceitei de imediato, entusiasmadíssimo!
Estabelecemos uma divisão do grupo, em dois - um até aos 10 anos e outro de 10 anos para cima.
Fico com o grupo de idade superior a 10 anos.
Conquistar a confiança destas 14 crianças, no sentido de os levar a interessar-se por algo, é um processo moroso. Contudo, à exceção de um caso um pouco mais difícil, consegui que participassem numa "caçada" de 10 palavras, em diferentes páginas de livros que distribuí, tendo-os convidado de seguida a compor uma frase ou pequeno texto com sentido.
E o resultado foi fantástico. Desde respostas com qualidade, ao perfeccionismo de outras, passando pelo desencanto de uma jovem que me informa de imediato ter um défice de imaginação já conhecido na escola, :-), foi uma hora de muita interação e simpatia. Pareceu-me ser um bom mote para "injectar" nestas cabecitas o gosto pelas palavras. Pois se até a simpática dona do défice de imaginação, se surpreendeu a si própria. :-)...
Surgiu-me de imediato uma ideia para o dia seguinte. Algo que me é muito caro e que julgo deveria ser integrado da disciplina de Português - linguagem gestual.
Quando, há uns anos eu viajava diariamente de, e para Lisboa,  ficava  longos períodos na estação dos barcos do Terreiro do Paço, no regresso, a observar grupos de jovens surdos-mudos, que ali se encontravam à tardinha para conversar.
Era impressionante, observar a intensidade e naturalidade da sua comunicação no mundo do silêncio. Sem produzirem um único som, incutiam nos momentos que partilhavam, verdadeiras sonoridades.
Mas voltemos à minha turma. :-)
Com a preciosa ajuda da internet e da dedicação profissional de uma das funcionárias, preparamos 20 folhas com o alfabeto gestual, para tentar levar os jovens a entender a diferença, dialogando entre si gestualmente como os jovens da estação dos barcos, e, simultâneamente abordarem a palavra numa outra perspectiva.
Aguardo ansioso o momento da ação.
Então, eis que a coordenadora chega, e considerando a linguagem gestual, uma coisa menor, como aliás, já tinha considerado a "caçada" de palavras, decide trocar as turmas, como experiência...
Chocou-me o tratamento deste trabalho, como experiência, mas tentei com os mais pequenitos, dar continuidade à ideia da linguagem gestual. Também resultou mas num âmbito mais limitado e com crianças com quem tinha que reiniciar um processo de aquisição de confiança.
Ora bem. Se adicionar a esta "coordenação", uns gritos disciplinadores algo desajustados, sou obrigado a concluir que as motivações da pessoa em causa, são de uma natureza diferente  da minha.
O que me motiva é uma endémica e orgânica vontade de ajudar o outro, não obstante ter o meu tempo e o meu silêncio ocupados.
Do outro lado vejo uma pessoa que procura ansiosamente algo, para preencher o tempo...e o silêncio.
Afasto-me.
Para além do mais, porque entendo que a actividade de acompanhar crianças, deve ser escrupulosamente estruturada, regulamentada e nunca improvisada.








segunda-feira, 14 de julho de 2014

inexoravelmemte













inexoravelmente,
o tempo passa,
perdido,
na perspectiva
de
não ser mais tempo,
de ser,
este momento breve...

fatalidade


incendeiam-me ainda os beijos que não me deste
e cegam-me os acenos que me não fizeste,
da janela irreal onde o teu vulto,
era uma alucinação dos meus sentidos.
mas, decorrida a vida, oculto
nestes versos doridos,
a saber, que não sabes que te amei
e cantei.
e nem mesmo imaginas quem eu sou
e como é solitária e dói a minha humanidade.
em vez de te acusar
e me culpar,
maldigo o arbítrio da fatalidade
que cruelmente nos desencontrou.


Miguel Torga

sábado, 12 de julho de 2014

perfeição

se a perfeição
tivesse forma,
teria:
um ar circunspecto,
uns lábios vermelhos,
uns cabelos sedosos,
umas mãos expressivas,
...de tanta interioridade.

terça-feira, 8 de julho de 2014

a vida não me pertence



















...

E eu amo e penso e sonho e vivo e a minha vida
não me pertence a mim, anda esparsa no ar.
E assim minha existência obscura, indefinida,
é a existência da flor, da água e do luar...


Teixeira de Pascoaes, in "O Homem e o Universo" (excerto)

imperfeição

O meu modo de estar no universo, isto é, a minha cosmogonia, não a consigo enquadrar nas cosmogonias: bíblica, islâmica, budista, suméria, hinduista, etc.
Custa-me aceitar a verdade das convicções por isso mesmo. Por serem verdades.
A verdade é o fim.
A verdade é a morte.
Nada mais existe para além da verdade. E eu amo tanto a vida.
Amo a permanente vontade de, em cada momento, procurar por instinto o equilíbrio à minha volta, não no sentido estético, mas no sentido imperfeito e vivo que há em tudo.
Um recanto de parede branca. Um reflexo no olhar dos meus cães. Uma nova flor nascida durante a noite.
O sabor de um café matinal, tomado em silêncio. Os ovos das galinhas na palha - :-) é uma das imagens do meu imaginário, que me acompanha desde sempre, vá lá saber-se porquê.

São momentos que apetece fotografar, mas de certa forma, fotografar, é matar as coisas.
Tenho que rever a minha paixão por fotografar. Acho que há o perigo de fotografar demasiado e banalizarmos a nossa forma de sentir. Contudo, volto vezes sem conta aos momentos que fotografei, para descobrir novas formas de sentir. Ok, se calhar o que tenho de fazer é tratar o acto de fotografar, como um momento muito intimo. Um momento de procura da imperfeição. Da imperfeição que sustenta o amor...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

sim...talvez.

Como os sistemas eléctricos, que dispõem de acumuladores, para armazenar de forma equilibrada, o excesso de energia produzida e não consumida pelos equipamentos, talvez eu precisasse de um acumulador de amor, para obstar as descargas dolorosas que a todo o momento sinto no peito...e na alma, devido ao amor não consumido, que me consome.

domingo, 6 de julho de 2014

nada de novo

Aquilo que alguma vez pensámos, dissemos ou escrevemos, não o foi certamente  pela primeira vez. Algures no tempo, tudo terá já sido pensado, dito ou escrito, e os seus ecos ficado suspensos na imensidão do espaço. Do cosmos.
Contudo, é tão importante, que as nossas próprias reflexões sobre o sentido da vida, nos façam "descobrir" a todo o momento coisas fantásticas, que nos inundam de uma  plenitude de ser, e guardá-las... num bloco de notas ou num ficheiro de pc, mas principalmente na dimensão infinita da alma.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

desencanto...

Sim, mas quando perdemos o direito a entrar, onde nos habituamos a estar, entendendo e respeitando a sensibilidade, elegância e delicadeza do lugar, invade-nos um amargo, estranho  e triste desencanto... 

teus olhos

um dia,
em teus olhos
castanhos,
chorosos de injustiça,
vi
um reflexo verde,
de promessa
e eternidade.



contemplação

talvez...
não sei.

não sei
que daria eu,
por um olhar.



a dureza da memória

momentos...

suspensos,
retomados,
desejados,
esperados,
adiados...

trémulos
de desejo
e muito,
muito amor...

transparência


...olhar
sentir...
tocar...
são nuvens,
transparentes
de ausência.



quarta-feira, 2 de julho de 2014

terça-feira, 1 de julho de 2014

palavras que beijam





"...o castanho dos teus olhos é mais atlântico que o azul do mar."


não lugares




















habito
não lugares.

os lugares,
esses...
doem-me
de ausência,
e de lonjura.





o tempo e os lugares

percorro
o tempo e os lugares,
com receio,
de encontrar
o que procuro.



segunda-feira, 30 de junho de 2014

desassossego

a minha alma
não me dá
sossego.

fonte

É de crer,
que a dinâmica do amor,
seja uma dinâmica da mesma
natureza,
que a dinâmica das fontes.
Sendo que, 
a água das fontes 
se renova, 
incessante, 
na busca
de liberdade 
até ser rio, 
bravo e livre, 
para navegar, 
de colete e capacete, 
num turbilhão de emoção,
doce naufrágio
de ternura,
que nos arrasta 
e deposita 
num beijo sonhado, 
que espera,
até à eternidade...


domingo, 29 de junho de 2014

saudade

(...)
saudade é amar um passado que ainda não passou,
recusar um presente que nos magoa.

só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

e esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

o maior sofrimento é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda (excerto)


não sou




















não sou
quem sou.

quem sou
és tu.

wish you were here




rochedos errantes





















só os
rochedos errantes
da montanha,
ouvem
o grito
que me rasga o peito
e a alma,

e
absorvem
o pranto, que
não contenho,

como fazem
com a chuva.

amo-te tanto...

sábado, 28 de junho de 2014

madrugada




















uma madrugada
espera,
pela luz
do teu olhar.

a sensualidade da vida





















Entendo a festa como um acto sexual com a vida. Uma penetração.
Uma penetração ostensiva, física, algo violenta, apoiada por decibéis musicais e muito álcool.
Prefiro a relação também ela sensual, que mantenho com a vida fora da festa. Esta, para além de mais duradoura, é uma relação de outra natureza. É uma penetração vibrante mas doce, terna e profunda, apoiada em muita ternura, numa simbiose de corpo e alma fundidos de amor.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

contudo, o amor




Para superar os contrastes mediante a alegria, o amor não pode suprimi-los ou negá-los.


Nietzche

e tudo parece ter alma



e tudo
parece ter alma.
e tudo
me obriga
a amar
em pranto,
sem entender
quando,
quanto,
porquê.


imagem - Howard Schartz

quinta-feira, 26 de junho de 2014

tantas palavras




















tantas palavras,
momentos
e olhares,
que a memória
não apaga,
da pureza das almas
impacientes,
à espera do tempo.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

momentos...

Todos os momentos nos pertencem. Mas há momentos que nos massajam a alma...

a montanha...

algo brilha,
por entre
o torpor
magoado,
com que a montanha
me adormece
a nostalgia...

domingo, 22 de junho de 2014

hablame

hablame.
en silencio,
pero, hablame.

llena mi alma,
con tú alma.

sábado, 21 de junho de 2014

plenitude

escrever é uma libertação, uma contemplação, uma consagração, uma plenitude de aceitação de uma dor incontida, entranhada na alma.

sul

sucedem-se
as imagens
no alvoroço
da mente.

abraço
o vazio,
tateando
a textura
do vestido,
macio
e azul,
que cobre
a pele,
bronzeada
levemente,
por um verão a sul.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

sem dormir

preciso de tocar
o teu nome,
a tua gentileza,
para adormecer
sem ti.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

o silêncio

a essência do que me rodeia é o silêncio.

o silêncio é a fímbria da minha alma.

nada para mim é audível, senão o silêncio de ti.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

sei agora...




                                                     (...)
                                                     sei agora como nasceu a alegria,
                                                     como nasce o vento entre os barcos de papel,
                                                     como nasce a água ou o amor.

                                                Chopin - Nocturne Op.9 nº2
                                                                Eugénio de Andrade, (excerto) in "Até Amanhã"

sustentos da alma

a leveza
e a dor,

do ser,

sustentam.

se até...

se até,
o vazio
e o nada,
são doces,
de ti.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

"corpos estranhos"

A única coisa que verdadeiramente me assusta, é cair involuntariamente, nas zonas tenebrosas e escuras do preconceito ou da calúnia, devido a qualquer erro de cálculo, ou devido ao calculismo deformado de outros, partindo do meu permanente estado de disponibilidade com as mãos nuas, ou devido ainda, à intromissão de "corpos estranhos", à paz que sustenta a verdade.
As armas, mesmo defensivas, são para a minha filosofia de vida, apenas e só - inaceitáveis.
O apego à verdade e à dignidade, obrigou-me a dar sempre - TUDO o que tenho.
Já me tem custado caro. Mas não sei, nem quero mudar.
Mudar, seria mudar um sentido de vida, que tanto sentido faz para mim.
Há muito que me habituei a não perder a esperança, de que me entendam e me respeitem. 
Como eu respeito.

bem vindo Shumacher

Nem em dia de Alemanha - Portugal, me sai da cabeça a recuperação de Shumacher. Não sendo seu particular admirador, sempre o achei um pouco criança e imaturo, apesar de bom tipo, sinto esta sua esta vitória como um presente.
Creio que, por não apreciar desportos motorizados, o menosprezei enquanto campeão.
Mas aqui está a sua verdade de campeão, que a partir de um inconsciente fragilizado, nunca tirou o pé. Nunca encostou, em direcção à vida.
Pelo seu amor ao futebol, não me incomodava ceder-lhe o prazer da vitória daqui a pouco.
Bem vindo Shumacher.

ainda e sempre, o inconsciente...

Uma foto que "tiramos", deve corresponder a um momento, que de alguma forma nos questiona sobre a vida, sobre o tempo e a memória, sobre a nossa existência, e que tornamos eterno com um click.
É um momento diria, dramático, por nos colocar perante a enorme responsabilidade de imobilizar no tempo, o que o nosso inconsciente ditou.

freedom
















Coração encadeado, espírito livre.


Nietzche, "Para além do Bem e do Mal "

domingo, 15 de junho de 2014

nem o tempo existe




















a alma
repousa
por breves momentos
porque o tempo...
o tempo não existe.

sábado, 14 de junho de 2014

um luar

















O que torna as pessoas bonitas, é a sua verdade, a sua alma, a sua dignidade, o seu olhar...
E há pessoas tão bonitas...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

terça-feira, 10 de junho de 2014

letras minúsculas

sinto-me tão bem
a escrever com minúsculas.
constrange-me usar maiúsculas.

todo o Poder
é escrito com maiúsculas:
Deus, Estado...

escrever com minúsculas,
é natural,
não obriga,
não oprime,
não magoa.

é
uma libertação.

e,
o uso da pontuação,
que não é regra,
permite,
a respiração,
livre
e tranquila,
da palavra.



cores

Explicar as coisas que eu sinto, é quase como explicar as cores a um cego.


Bob Marley


segunda-feira, 9 de junho de 2014

seria injusto

Confesso que sinto vontade de apagar muito do que neste espaço escrevi, mas seria injusto para mim, apagar emoções tão profundas, e tanto sofrimento por soltar palavras.

"bitaites"

Por todo este desgraçado país, desenvolveu-se  de há uns anos para cá, a cultura do "bitaite", da "boca", do "deitar abaixo" o outro.
Entre adeptos de diferentes cores futebolísticas.
Entre adeptos de diferentes partidos.
Entre detentores de ideias diferentes. E por aí fora.

Está aqui implícita, uma necessidade ancestral de marcação de território.
Contudo, dado existir uma suposta evolução em termos civilizacionais, seria também suposto, não ser descurado o respeito pela diversidade e pelo "outro", e haver alguma aprendizagem e evolução nesse sentido.
Mas não. O melhor "bitaite" é que ganha.
No entanto, e para quem esteja distraído, é bom que se perceba, que este fenómeno é da mesma natureza que o fenómeno que suporta a confrontação entre povos. É um fenómeno construído, portanto. É, do ponto de vista do inconsciente, mais importante do que parece. Daí, que frequentemente, o autor do "bitaite" se desculpe com um: "estava a brincar".
Sempre me senti desconfortável neste tipo de enquadramento, sendo por isso "gozado" duplamente:  por ser vítima do "bitaite", e por não entender o "bitaite".
Como toda a gente, já tenho magoado inadvertidamente, mas nunca senti o menor preconceito em pedir desculpa.

fui ao teatro

Fui ao teatro.
Há muitos, muitos anos que não ia ao teatro. Cheguei entusiasmado, mas o reduzido auditório logo ditou a desolação. Sim. É importantíssimo o calor do público, numa sessão de teatro.
Um  público de pouco mais de meia dúzia de pessoas, não é público quente para os actores. Mas estes, com uma coragem e dignidade impressionantes, representaram, transportando a audiência, numa viagem sem tempo através da dor.
Sinto tristeza por:
- A indiferença de uma comunidade, que ignorou o precioso trabalho de representação, a todos os níveis fascinante, bem como a intensa mensagem da peça.
- Não ter agradecido aos actores, a sua dignidade e coragem.

Fica o vazio, por não ter sentido a emoção de uma sala cheia, em silêncio, a desfrutar a magia do teatro.

o lápis azul

Futebol
Tourada
Carnaval
Feira Anual
DJ Mocas
DJ Canab
Festival A
Festival B
Festival C
Santos Populares
e Não Populares
Tonys Carreira
e Sem Carreira
Natal e Ano Novo
Vida nova...
Futebol...

Se não gosto, não desfruto, nem sou obrigado a comer - ponho na borda do prato.
E não tenho que protestar, ou levo com o lápis azul.
Aqui, baixinho para ninguém ouvir, a lista acima, parece ter sido criada por António Ferro, o braço direito de Salazar, para os assuntos festivos e de entretenimento.

Ai disto, se de novo voltarmos ao pensamento único, propriedade dos donos da verdade, uma espécie de que, confesso - não sou fã, e voltarmos à sujeição do lápis azul.
Por favor...
A minha sorte é que não tenho a mania que já sei tudo. 
Apraz-me imenso manter, com modéstia, a mente aberta aos ensinamentos da vida, que durarão até ao fim.
Mas confesso-me surpreendido por ainda existirem mentes com a convicção, de que só há crítica nefasta.
Certamente ausentes da miserável escuridão de 48 anos, que cada vez mais, é recordada como folclore.
Fiquei a ganhar. Descobri mais uma pequena verdade.




domingo, 8 de junho de 2014

não, não quero...

não.
não quero
que, o sofrimento
e a dor
me abandonem.

...numa água sem tempo.



quero,
sair de mim
e navegar,
numa água sem tempo,
como as lágrimas.

celebração

Nada dói tanto,
como
sonhar/acordar/sonhar
alucinadamente,
numa
longa
noite,
os pavores
de uma indiferença
configurada
como um anátema,
nas profundezas da alma.

Celebremos a dor.

sábado, 7 de junho de 2014

eternidade




Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como a natureza.


Pablo Neruda
art Daniel del Orfano 
in, Artes e Poesias

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ardência













... diz: quando será curada
a ardência do meu coração
com o fresco toque dos dentes
que na tua boca estão?


Al Mu´Tamid, poeta do amor

de um mar imenso...

há momentos
em que
as palavras
me inundam
e me varrem,

como ondas
incansáveis,

vindas
de um mar imenso,
revoltado
de tanto amar.

lo confieso

lo confieso:
verte
me agita,
me molesta,
me hiere,
pero me encanta.

todo brilla

todo brilla
cuando
tu pensamiento
me habla.

perdas

A perda de alguém, por morte, considerando que apenas é perda se, por esse alguém tivermos um profundo afeto, assemelha-se a uma ferida que contraímos no corpo.
Em ambos os casos se inicia de imediato um processo de cicatrização, que pode não ter nenhuma relação com a nossa vontade.
Por outro lado, na perda de alguém que não por morte, considerando de igual modo, alguém a quem nos liga o mesmo afeto, o processo de cicatrização simplesmente - não começa.
Como uma ferida, diariamente mexida e magoada.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

mirar su imagen

contemplación,
encantamiento,
deseo,
respeto
y mucho dolor,

sostiene el amor.

domingo, 1 de junho de 2014

não

não.
os meus sentimentos não me assustam.

mata-me de vez...

Toca-me com as tuas mãos.
faz-me desaparecer com a tua pele.
Sufoca-me na tua língua.
Arrasta-me pelo ar com o teu perfume.
Mata-me de vez.

Maria Teresa Horta (excerto)

diz o meu nome...

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo...

Mia Couto

sábado, 31 de maio de 2014

é tão larga, a vida...

é tão larga,
a vida.

mais larga
que comprida...

e o tempo...
ah, o tempo...

o tempo,
será
sempre pouco,

para tanta
intensidade.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A fragilidade humana é imensa.

A fragilidade humana é imensa.
Ao ver pela quarta vez o filme "O Caçador" com Robert de Niro, Meryl Streep, Christopher Walken, John Savage, sobre os traumas da guerra do Vietname, reparo que, quanto mais o tempo passa mais difícil se torna lembrar a maldita guerra colonial portuguesa.
O aperto na alma e o nó na garganta, quase sufocam. Acho que não vou ver este excelente filme pela quinta vez.
Na verdade, já na segunda vez e terceira, em que vi o filme, disse a mim próprio que seria melhor não ver até ao fim.
Mas o filme é dolorosamente fascinante...
A frase de, de Niro: "Sinto-me longe", é lancinante e profunda, revelando com toda a pureza, a solidão da guerra.

terça-feira, 27 de maio de 2014

brisa cálida

contudo,
uma brisa cálida,
passa
entre um bosque
de memórias,
enraizado
na alma...

orgasmo dorido

por ver-te,
o cérebro
agita-se,
numa explosão,

de orgasmo
incontrolável
e dorido.



segunda-feira, 26 de maio de 2014

ternura inútil...

sinto
em mim,
um excesso
de ternura inútil,
que,
lentamente,
me consome,
e sobra
em amor.

domingo, 25 de maio de 2014

cosmogonia

poder-se-ia
falar
de cosmogonia
do amor,
não fosse
o amor
inexplicável.


sábado, 24 de maio de 2014

nada garante que tu existas





















Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas

David Mourão-Ferreira, in "Obra Poética"

quarta-feira, 21 de maio de 2014

terça-feira, 20 de maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

o respeito pelo outro




















Dar forma e conteúdo ao respeito pelo "outro", não é apenas institui-lo como regra, e sentar à sombra a observar. Tal tarefa, pois é disso que se trata, deve pertencer ao nosso quotidiano, no sentido de nos adaptarmos à permanente mutação da realidade, e não confundirmos os nossos direitos, com a perda de direitos dos outros. 
Há uma dica muito antiga e simples, que continua a dar resultado: colocar-mo-nos na pele do "outro", e reflectir segundo os seus parâmetros. 
Assim, perderemos o medo ancestral, do feio, do estranho, do diferente, do "outro", e podemos corrigir-nos a nós próprios...sem preconceitos, pondo em prática um dom, também ele,  (ao contrário do que parece) intrínseco ao ser humano - a dádiva.