sexta-feira, 29 de novembro de 2013

insónia














na insónia

de um momento
perdido

que ficará
a vaguear
na eternidade

cheio de amor

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

trans-siberiano

É angustiante observar a “morte mental” de pessoas a partir dos 40 e poucos anos. (tão novinhos)
Nota-se neste estrato, um acomodar em torno de uns copos, de um concordar com o que a maioria pensa dando-lhe um toque pessoal à láia de autoria.
Imensa gente estrutura a sua “vida” baseada numa cultura de imagem, de status, recolhida dos meios difusores. Uma cultura de viagem, uma cultura de passagem...para o fim de semana, para a próxima quadra festiva, para as próximas férias...para a próxima viagem...
Mas...não vivem?! 
Aos 50, 60, 70...é um dó de alma!... Parecem zombies.

Uma multidão de corpos inexpressivos a torrar ao sol numa praia, é assustador. E essa sensação começa a instalar-se no mais comum quotidiano. Por mim, e porque fui  "educado" por muita "porrada", voto a estes "cromos" o melhor da minha indiferença. Mas ando com o coração nas mãos pela exposição dos que abrigam o meu afeto; porque o cérebro destas multidões está formatado apenas para uma coisa: o seu umbigo.

Perdoem-me a imodéstia, mas eu quero viver! Quero estar vivo até morrer!

Quero sentir os afetos, quero procurar, quero colocar um “like”...com gosto, porque não?!
Viajar?!
Não tenho tempo a perder com viagens, mas adorava fazer o Trans-siberiano entre Moscovo e Vladivostok, passando por Pequim. 15 dias e 14 noites para atravessar a Ásia e conhecer a tranquilidade das culturas da Rota da Seda, numa perfeita simbiose com a magia do comboio. Aviões?! Todos reciclados para que as pessoas voltassem a ter tempo para pensar.

E, no tempo que me restar, como Pessoa, quero sentir exageradamente.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

esta ternura

esta ternura
que me consome

esta ternura
que é ternura
sem saber

esta ternura
este mar
onde nado

e me deixa
a alma extenuada


domingo, 24 de novembro de 2013

fuga

A questão não é nova.
Espinoza concluiu que "a maioria das pessoas é ruim".
Schopenhauer, que "100 néscios empilhados não dão um único homem razoável".
Não é preciso inventar mais para reconhecer na vida, uma fuga.
Claro que continua a ser bela, nas suas subtilezas, imponderáveis, escolhas, desejos..., mas é uma fuga.
Em última análise, uma fuga permanente na direção de nós próprios e do que amamos.

sábado, 23 de novembro de 2013


Foto


Somos sozinhos em tudo o que amamos.

Novalis

os meus botões

Quando mais evidente se torna, nos outros, a ânsia de protagonismo, melhor me sinto com os meus botões. Na verdade , é para mim um enorme prazer, não pertencer a uma espécie de humanos que pisa as mais elementares regras de educação, descrição e de respeito pelo outro, imbuídos que estão por uma sede de visibilidade e de duvidosos objetivos. E se para mim, sentir carinho por alguém, implica respeitar o seu universo; angustia-me sinceramente observar o planar de certos espécimes.

neta IV

neta

sensibilidade
inteligência
dinamismo
sentido de humor
non sense
ternura
atenção
perspicácia
...e muitos ganchinhos no cabelo

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

não quero o primeiro beijo





Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo.
Terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.

Mia Couto
imagem - Beautylife

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

as lágrimas e o riso




















Tenho uma relação
estranha
com as lágrimas
e outra estranha relação
com o riso.

Sinto-me confortável
com as lágrimas
não me sinto confortável
com o riso.

As lágrimas
não magoam
o riso
pode magoar.

Além disso
o riso é exterior
social
duro
passa apressado.

As lágrimas
são íntimas
privadas
ás vezes secretas
sentam-se
e ficam um pouco
a conversar...



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

a amoreira e o limoeiro





Subiu a rapariga para cima da amoreira
e ao cimo do limoeiro, subiu o homem também.
Uma aranha os enlaçou, e tudo aquilo que é belo
não deixa que se separem.

Canção malgaxe, in Herberto Helder, "Poesia Toda"

precious love


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

encantamento





















melhor fora
que vos não vissem
meus olhos
senhora...

pois sempre
que tal sucede
é minh´alma
quem paga
em ardor
pelo encantamento
em ver-vos

contudo
inda assim
tal sofrimento
é tão desejado
...senhora




díez centímetros de silencio

Hay díez centímetros de silencio
entre tus manos y mís manos
una frontera de palabras no dichas
entre tus lábios y mis lábios
y algo que brilla así de triste
entre tus ojos y mís ojos

Mário Benedetti

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

correr à chuva






Graças aos imponderáveis da meteorologia e aos hábitos desportivos em espaços cobertos, há muito que não saboreava uma corrida à chuva. Hoje pude fazê-lo.
Trata-se de uma relação muito íntima com a dimensão divina com a Natureza.
Qualquer coisa dura e doce, que nos põe todos os sentidos à flor da pele, ajuda a arrumar alguma nostalgia dorida...mais teimosa  e acalma a alma, com a mesma suavidade com que  acaricia o corpo.
Um banho de natureza...em silêncio.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

how fragile we are...




o inconsciente

O inconsciente, é o domínio mais extenso do nosso espírito e, devido a essa inconsciência, é a nossa África profunda, cujas fronteiras desconhecidas para nós, se estendem talvez até ao infinito; a face escondida da lua do nosso espírito que nunca se volta para a luz da consciência.

Jean-Paul Richter, in "Dicionário do Inconsciente"

as paixões

As paixões têm uma poderosa influência sobre o organismo, podendo torná-lo doente ou matá-lo. Mas graças a esse poder, elas podem também, em certas condições, curar o organismo.

Johann Christian Reill, médico, in "Dicionário do Inconsciente"

domingo, 3 de novembro de 2013

memória




os dedos
com que
toquei
ao de leve
a tua pele
têm
memória
de elefante

"vida ativa"

Já tentei várias vezes escrever algo sobre a minha "vida ativa", até 2005, mas ainda não fui capaz.
Sinto-me tão bem agora, nesta nova vida ativa...interior,... emotiva, física também, que não me parece justo perder um tempo tão precioso, que me é necessário para fazer o contraponto entre as emoções, os sentimentos e as novas questões que a vida coloca, e lhe trazem sentidos tão intensos e renovados.

           Sala de Comando de Tráfego Ferroviário                                                                                            

o sentido da nudez

"Não é o dinheiro que faz de si uma pessoa bem vestida, é o discernimento."

Christian Dior

Cá está porque eu sempre me senti melhor sem roupa! Com toda a seriedade o digo.
Uma pessoa para estar bem vestida, não precisa ter roupa a cobrir o corpo. Aliás, a roupa foi uma imposição do clima, que o homem transformou num dos muitos maus hábitos que inventou ao longo dos séculos.
A roupa não passa de uma mentira, em muitos casos. Senão vejamos a "elegância"de certas pessoas enquanto vestidas, que se esfuma logo que se despem, ou pelo contrário, possuidoras de uma elegante nudez que desaparece logo que se vestem.
Estamos pois, perante um estado de alma, quer se trate de ter roupa no corpo ou não. A elegância está na alma. Nem sequer está num corpo nu e escultural.
Estou convicto pois, que a naturalidade da nudez, foi algo que se perdeu, e é pena, em detrimento de um sentimento de culpa e falso pudor que nos impede de sermos nós próprios, na liberdade da nudez.

Uma personagem do livro "Maíra", do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, uma freira católica que se apaixona por um padre de origem índia, e o acompanha quando este  resolve regressar ás origens é à sua tribo, desiludido pela formação recebida no seminário, é um exemplo paradigmático desta convicção.
Ela chega à aldeia vestida como qualquer ocidental, mas sente-se de imediato desconfortável perante a nudez tranquila das mulheres indígenas. Uma nudez esplendorosa segundo os parâmetros ocidentais, mas simplesmente natural segundo os parâmetros indígenas. Os risinhos marotos mas puros,  das mulheres nuas perante a mulher vestida, sublinham toda essa naturalidade.

Mas falta reflectir um pouco sobre o papel do dinheiro nesta história, já que o Christian Dior o coloca em plano de destaque.
O dinheiro ...a menina dos olhos do capitalismo, desenfreado ou não!
Sim. Se quisermos vestir-nos temos que comprar roupa, que não precisa ser cara para cumprir as suas funções, associadas à elegância e ao conforto. Mas eu não consigo libertar-me da questão central - a nudez, e da contradição entre ter que gastar dinheiro para não ofender o pudor alheio e estar bem comigo. Tanto mais que me sinto invariavelmente desconfortável  com a roupa que compro. Uma sensação tão diferente da que sinto, nu.
Esta última, para mim, é uma sensação da natureza dos sonhos, da dignidade e dos sentidos que tão caros me são. Na verdade só me sinto desconfortavelmente "nu" se for obrigado a partilhar sentimentos e emoções, com alguém com quem não tenha a menor afinidade ou empatia. O que não é o caso.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

segredos







Em cada um de nós há um segredo,
uma paisagem interior
com planícies invioláveis,
vales de silêncio e
paraísos secretos.

Antoine de Saint- Exupery
imagem -  Tuareg, Sahara, in "Life and Art"