segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

saravá 2013






















Que 2013 seja um ano tranquilo, como esta simpática vaquinha da serra de Montemuro. :-)

c o

inner soul...



É tão difícil guardar um rio quando ele corre dentro de nós.

Jorge Sousa Braga

domingo, 30 de dezembro de 2012

fermare...




















...un bene cosi caro
un bene cosi vero
chi può fermare il fiume
chi corre verso il mare...

Domenico Modugno, in "Dio, come ti amo" (excerto)
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

a presença de ninguém




















A ausência de alguém não tem medida. É então que, mesmo acompanhados, apenas sentimos a presença de ninguém.

conversas suspensas


















Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.

Machado de Assis
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dor de sentir



















...a ânsia das coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo...

O que fica de tudo isto é um cansaço antecipado dos desejos, um desgosto anónimo de todos os sentimentos. Nestas horas de mágoa subtil, torna-se-nos impossível, até em sonho, ser amante, ser herói, ser feliz...

Fernando Pessoa. in "O Livro do Desassossego"
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

passos da cruz



















...Ó tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!
E, beijando-o, descesse p´los desvãos
Do sonho, até que enfim eu o encontrasse...

Fernando Pessoa, "Passos da Cruz" (excerto)
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

qualquer música














Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!


Fernando Pessoa (excerto)



terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Feliz Natal...
















...Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite a dormir em silêncio.

Vinicius de Moraes, in "Poema de Natal" (excerto)
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

não-lugares



















O tempo
o espaço
os lugares
a dor
só eles fazem sentido
a felicidade, não.
A felicidade é
como os não-lugares
da solidão
disfarçada.

c o

desalinho




















" ...no desalinho triste das minhas emoções confusas...

Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúncias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desalenta esta paisagem
de abdicações - áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos..."

Fernando Pessoa, in " O Livro do Desassossego"
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domingo, 23 de dezembro de 2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

...qualquer cousa.























Um hálito de música ou de sonho, qualquer cousa que faça quase sentir, qualquer cousa que faça não pensar.


Fernando Pessoa, in "O Livro do Desassossego"
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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

amor vivo
























Amar! mas dum amor que tenha vida...
...Não sejam sempre só delírios e desejos
Duma douda cabeça ensandecida...

Amor que viva e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser - e não só beijos
Dados no ar - delírios e desejos -
mas amor... dos amores que têm vida...

Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névia da vaga fantasia...

Nem murchará do sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?

Antero do Quental
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O silêncio


















Quando a ternura
parece já do seu oficio fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando doces, irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.


Eugénio de Andrade
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e de súbito



















E de súbito desaba o silêncio,
É um silêncio sem ti,
Sem álamos,
Sem mar.

Só nas minhas mãos
Ouço o murmúrio das tuas.


Eugénio de Andrade
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

soltar palavras


















Sinto uma permanente ansiedade por soltar palavras. Não de as dizer, de as escrever ou de as cantar, mas  de as soltar.O que ocorre nesse momento é algo semelhante a uma solta de pombos, em que ao abrir das portas, os animais se libertam num turbilhão de adrenalina. Sendo que, com  as palavras, se exige uma tarefa gigantesca mas fantástica, isto é, ordenar a sua saída.
Uma saída ordenada. Apenas isso: uma ordenação que permite à palavra, planar no tempo e na emoção e tornar os momentos especiais... - daí esta ansiedade.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

poema aos amigos



























As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus.
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.


Jorge Luís Borges  (excerto)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ansiedade



















Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado;
Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.

Mário Quintana 
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domingo, 9 de dezembro de 2012

vida




Vida

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

Clarice Lispector

sábado, 8 de dezembro de 2012

obscuro dominio


















Amar-te assim desvelado
entre barro fresco e ardor.
Sorver nos lábios fendidos
a luz da cal orvalhada...

... irreprimível queimadura
ou vertigem desdobrada
beijo a beijo
brancura dilacerada...

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio" (excerto)
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palavras separadas por 3000 anos...

Bendita seja a mãe que te gerou.
Bendito o leite que te fez crescer.
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, para te adormecer!

Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer...
Bendita seja a Lua, que  inundou
de luz, a Terra só para te ver.

Benditos sejam todos os que te amarem,
As que em volta de ti se ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!

E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa mulher, (homem)
Bendito seja, o beijo dessa boca!

Florbela Espanca

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Ó minha lubi (1), minha lubi, minha lubi
minha labi (2), minha labi, minha labi, meu mel da mãe que te deu á luz,
minha uva suculenta, meu mel..., minha boca-de-mel de sua mãe,
o brilhar dos teus olhos é um deleite para mim,
vem, minha irmã (3) amada!
O saudar da tua boca é um deleite para mim,
minha boca-de-mel de sua mãe,
o beijar meu peito dos teus lábios é um deleite para mim
vem, minha irmã amada!
Minha irmã, é boa a cerveja do teu grão,
minha boca-de-mel de sua mãe,
é boa a bebida cintilante da tua "cerveja-pão",
vem, minha irmã amada!
Na tua casa, a tua exuberância é um deleite para mim,
minha boca-de-mel de sua mãe,
minha irmã, a tua exuberância é um deleite para mim,
vem, minha irmã amada!

Literatura Suméria
in, Antologia de Cantigas de Amor do Oriente Antigo

(1), (2) - palavras onomatopáicas de carinho, "querida" "amor"
(3) - palavra sem relação de consanguinidade

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Toma-me, noite.



















Se vens à minha procura,

eu aqui estou. Toma-me, noite,
sem sombra de amargura.
consciente do que dou.

Nimba-te de mim e de luar.
Disperso em ti serei mais teu.
E deixa-me derramado no olhar
de quem já me esqueceu


Eugénio de Andrade, in "As mãos e os frutos"
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Não digas nada




















Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada dizer
E tudo se entender -
Tudo  metade
De sentir e de ver...
Não digas nada!...

...

Fernando Pessoa (excerto)
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domingo, 2 de dezembro de 2012

injustiça


















No seu sentido mais profundo, a vida é bela e alegre. Todos nós já tivemos a experiência disso milhares de vezes. Provas sobre provas de que não há primavera sem flores nem outono sem frutos. Mas, apegados como estamos à aparência de tudo, esquecemos a voz do profundo, e ouvimos deliciados o som da superfície.


Miguel Torga
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