quarta-feira, 30 de novembro de 2016

completas-me

como
humanos
permanecemos
na
incompletude
do corpo
e da alma.
mas tu
completas-me,
meu amor.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

silêncios...

não há
silêncios
de ti.

vento frio, meu amigo...

troco as voltas
ando ás voltas,

troco o tempo
e a vontade.

há poucas ruas
na cidade
e ver-te dói.

resta-me a planura
e o vento frio
meu amigo.

ó minha amada...


(...)
E o cheiro dos teus perfumes,
melhor que todos os bálsamos.
Teus lábios, ó minha amada,
destilam mel virgem.
Leite e mel na tua língua.
O cheiro dos teus vestidos
é como o cheiro do Líbano.

Cântico dos cânticos de Salomão, Poema Terceiro (excerto)
Herberto Helder, in "Poesia Toda"

as pedras choram...

as pedras
choram

pelos passos

que têm
outros caminhos.

sábado, 26 de novembro de 2016

e...

e,

rodopiar
contigo
numa
alegre
torrente
de música.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

água...

és
a água

tépida
profunda
penetrada,

docemente
agitada,

pelos
espasmos
do amor,

onde
nado.

pintura na areia...

Para curar-me, o feiticeiro
pintou a tua imagem
no deserto:
areia de oiro - teus olhos,
areia vermelha - a tua boca,
areia azul para os teus cabelos,
e branca, branca areia, para as minhas lágrimas.

Pintou durante o dia, e tu
crescias como uma deusa
sobre a imensa tela amarela.
E pela tarde o vento dispersou
a tua sombra colorida.

E, como sempre, na areia
nada ficou senão o símbolo das minhas lágrimas:
areia prateada.

Herberto Helder, in "Poesia Toda", Poema dos índios Peles-Vermelhas

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

por vezes...

por
vezes
sinto-me
sufocar
de tanto
amar.

toalha de linho...

Chegou para tomar café e ao virar-se, viu-me.
- Olá..., disse.
Estava linda, quando se aproximou sorrindo.
Sentou-se para conversar, deixando-me num alvoroço. Estava tão linda.
Ajeitou os cabelos para a frente por cima do ombro esquerdo, ficando a acariciá-los, suave e repetidamente. Um comportamento usual, nela, perfeitamente enquadrado por uma sensualidade inconsciente e natural, tão intensa...
Começámos mais uma conversa breve, ao mesmo tempo que nos tocávamos profundamente pelo olhar.
Provavelmente uma conversa simples, trivial. Como uma toalha de linho onde bordávamos, um amor proibido...

escravidão...

as
almas
desobedecem
à
escravidão
da norma
e
fundem-se...

terça-feira, 22 de novembro de 2016

o teu vestido...

sucedem-se,
ansiosos,
e
molhados,
os
sonhos
em que
te tiro,
do
corpo,
o
cetim azul
do teu
vestido.


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

se fosses luz...


Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: - a luz do dia!
- Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
- Se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água - música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
- Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!


Eugénio de Andrade

numa espécie de imortalidade...

e,
o que
restará,
numa
espécie
de
imortalidade
protegida
pela alma,
será
o amor.

alma nua...

gostava
de,
de tempos
em tempos
despir a alma,

tão só
para
descansar
um pouco,
desta dor
infinita
incontida
constante
e inconformada

que a veste.

domingo, 20 de novembro de 2016

cetim azul...

pudesse,
a voz
da memória,
navegar
num caudal
de palavras,
e confortar-me
a alma,
com a
delicadeza
de um
cetim
azul...

saudade...

Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.


Fernando Pessoa

és...

és

um dardo
de desejo.

amazing...

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
e ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo, tremo. Não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Fernando Pessoa 

tengo que besarte...

imagino tus ojos
e la piel se me eriza
son las doce en punto
y mi espíritu aterriza,
te miro delante
y se me agota el tiempo
...tengo que besarte!
...Oh, tengo que besarte, amor!


Amanda Cobar


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

romanzeira

a
sensualidade
das
romãs do
meu
quintal,
lembra-me
os seios
e
os lábios
com que
sonho.

abraço...























...
minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão volta ao universo
quando se entrelaçam
até se tornarem deserto e escuro.
e eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.


Mia Couto

mais forte que as palavras...


Isto às vezes é tremendo porque a gente quer exprimir sentimentos em relação a pessoas e as palavras são gastas e poucas. E depois aquilo que a gente sente é tão mais forte que as palavras...

António Lobo Antunes

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

terça-feira, 15 de novembro de 2016

há um momento...


um
momento,
suspenso
no tempo,
que
espera
por nós,

ansioso
como
eu...

domingo, 13 de novembro de 2016

ad aeternum...

A dimensão deste desejo jamais poderá ser delimitada ou definida.
É como uma insatisfação decorrente da satisfação... ad aeternum...

a ausência...

a ausência
nao me
liberta
do
o amor,
que
consome
o
tempo.

sábado, 12 de novembro de 2016

os teus acordes

os
meus
ouvidos
só ouvem
os
teus
acordes.

de olhos cerrados...

e
de olhos
cerrados,
molhados,

dancei,
contigo
na alma,

a suavidade
dos acordes
de,
"dance me
to the end
of love..."


o teu silêncio...

até o
teu
silêncio
é
doce...

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

fica.

fica.

fica
um
pouco
mais,

na
dimensão
do
efémero.


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

coisas da placenta...

Provavelmente, a única boa experiência maternal que tive foi enquanto estive na placenta.
Só assim se explica o enorme prazer que sinto em nadar de olhos fechados.
Bem...na verdade abro os olhos a cada 4 segundos :-), para corrigir a trajectória, :-) o que perfaz 3/4 do tempo total de olhos fechados.
É um tempo único, que me permite profundas reflexões..., não obstante a minha concepção de tempo ser diferente da maior parte das pessoas.
Creio que com a idade a minha contagem do tempo passou a fazer-se de forma cíclica, como os maori, isto é, não linear.
Mas é curioso que não dei por isso.
Foi talvez uma transformação inconsciente.
Tanto, faz...
A verdade é que durante o referido período, o tempo parece estar parado... e as emoções, em vez de passarem por mim...permanecem...doces...
Como estou na água não me apercebo se me saem lágrimas dos olhos...

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

outra dimensão...

Não consigo "arquivar", de uma vez por todas, a frustração e a revolta por ver ciclicamente, a falta de respeito dos chamados "ex-combatentes" da Guerra Colonial almoçando alegremente, celebrando e contando "façanhas", a incautos que ainda não eram nascidos quando da sua ocorrência. 
Sim. Falta de respeito pelos que ficaram entregues a outra guerra, violentados de forma sistemática no corpo e na alma... há 55 anos.
Falta de respeito porque celebram o que é inseparável da dor e da devastação deixadas para trás.
Falta de respeito porque se banqueteiam sobre uma memória triste.
A relação que temos com a guerra é uma relação íntima, privada, dolorosa... a não ser que a ausência de escrúpulos determine outra coisa.
A minha relação com a guerra exige a dor de uma ferida eterna.
Tem razão Agustina quando diz:
"A guerra é apetecível. Não me venham dizer que a guerra é obra de generais e de caudilhos. A multidão sabe perfeitamente que vai para uma orgia." E a orgia continua...
Recusar-me-ei até ao último suspiro,  pertencer à multidão.
E que mágoa, sentir que esta "gente" me atinge numa outra dimensão... só minha.

domingo, 6 de novembro de 2016

"ex-combatentes"...

As mentes mortas dos "ex-combatentes" recuperam ciclicamente os destroços trazidos pelas ondas da memoria, com medo da solidão a que estão condenados.


"É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior."

Agustina Bessa-Luís (sobre a guerra)

Prefiro manter-me vivo, lutando diariamente com os meus fantasmas e as minhas paixões, sentindo-os na carne e na alma.

:-)...

A minha alma chora eternamente sem medo da solidão.

sábado, 5 de novembro de 2016

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

:-)

Oh my god ... I lost my mind, so much love. :-)

...e de repente...

e de repente,
invade-me
uma vontade
imensa de
brincar
contigo.

correr
num campo
de
margaridas,
ao som
do teu riso.

abraçar-te
e
rodopiar
até cairmos

no silêncio
de um beijo...

terça-feira, 1 de novembro de 2016

teus olhos

teus olhos
e mãos
disseram,

o que
os lábios
não
falaram.

consigo ouvir...

consigo
ouvir

o suave
ressoar
de um
beijo

inventado
em teu
rosto.

amor impuro...

o nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo...

Mia Couto