domingo, 31 de agosto de 2014

jamás lo sabrás

jamás lo sabrás.

lo que en mi creaste
lo que en mi dejaste
lo que voy a guardar
bien fondo
en mi.
inaccesible
a ningúno
profano toque.
en el miedo permanente
a perder el nada,
que es  tanto...

jamás lo sabrás.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

amor descartável...

Se podemos despir o amor, como se fosse um qualquer vestuário?!
Sim. É possível, se for um amor incauto, efémero, colorido...
Um amor amor... um amor de alma, intenso?! Não. Esse amor,  não é possível despir, tirar do corpo. Esse amor, dura e dói até à morte. Esse amor acompanha-nos como um amigo fiel para sempre. Esse amor, faz de nós a força que somos, e por isso não tem que ser dramático.
Na verdade, liberta a nossa alma para que ame. Intensamente. Infinitamente.

A ideia de poder ser portador de um amor descartável, é uma ideia assustadora. Contudo a dor e a capacidade de amar, protegem desse verdadeiro frio na alma. A dor e a capacidade de amar, não são mais que a nossa identidade, a par do nome e da impressão digital, e por isso nos mantêm vivos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

bastaria

bastaria,
um gentil
e breve
olhar,
para que
os dias,
se atropelassem...

que bonita, a dignidade...

que bonita,
a dignidade
de reconhecer,
respeitar,
desejar
e recusar
o amor...


sábado, 23 de agosto de 2014

o dramatismo do afeto

Continua a haver gente, muita gente, que ama, ou julga amar, sem saber o que é o amor.
Desconhecem em primeiro lugar, que amar pressupõe preservar o "outro", na sua totalidade, isto é, recusar tudo aquilo que possa de algum modo causar dano ou mágoa incontornáveis.
Fico muito grato à perspectiva antropológica que muito me tem ajudado a entender que, amar o "outro" significa respeitar o seu mundo e a sua intimidade, mesmo que isso obrigue a amar na ausência, no silêncio.
Amar é, no meu entender, uma função da alma, tão natural como a respiração. É um acto instintivo, inconsciente, não obstante ser depois trabalhado, pensado, sentido, chorado, como o poema. É um momento belo e natural que não tem que ter nenhuma carga dramática, simplesmente porque não é preciso "matar" o amor, nem magoar ninguém.
O dramatismo está sim, na perspectiva cultural que arrasta para todo o lado este anátema do amor, colocando questões incontornáveis, que vão muito para além do pecado, a ponto de enxergar o pecado onde ele não existe. Porque esse espaço está apenas preenchido por AFECTO. 
Às vezes penso, que o mundo não tem capacidade para absorver, a enorme quantidade de amor que sinto na alma. Amar outras almas com toda a alma. Simplesmente. Mas não. Não é possível. 
Há pessoas por esse mundo fora, ora felizes, ora infelizes, ora alegres, ora tristes, procurando o que está dentro de si.
Dado que a felicidade é fugaz e efémera, não me interessa ser feliz. Prefiro estar bem, muito bem comigo.

Platão e o Amor

Chamo mau amante ao amante vulgar, que mais ama o corpo do que o espírito, porque este amor não é durável, uma vez que se prende a uma coisa sem perenidade e, quando a flor da beleza, que amou, envelhece, o amante evola-se e desaparece, traindo as suas promessas,  enquanto que o amante de uma bela alma se mantém fiel toda a vida, porque se uniu a uma coisa perene.


Platão, in "O Simpósio, ou do Amor" (excerto do discurso de Pausânias sobre o deus Eros)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

fronteiras

No tempo, no espaço, no pensamento, as fronteiras existem. Mas "pedem-nos" uma reformulação constante, para não "morremos emparedados".
Em criança percorria, caminhando com a minha avó camponesa, distâncias por entre - planície, montado, ribeiros - e o tempo, o espaço, o pensamento nunca nos barraram o caminho. Não faz. sentido que o façam agora.
Suponho que uma reformulação do pensamento, passa pela reformulação da relação com o tempo, alucinado e escravizante, por forma a interpretá-lo de maneira cíclica e não linear.

homeless



















E se, ser homeless, fosse condição para ter a ternura, a dedicação e o respeito, de um ser incapaz de branquear afetos e emoções?!



domingo, 17 de agosto de 2014

quien iba a decir?...

Qien iba a decir...Que las cosas ya no iban a ser igual, y que de pronto,
ya nada nunca lo iba a ser?
Quien iba a decir?
Que muero todos los dias porque te sueño y quando dispierto no te encuentro,
y el mismo día vivo porque andas por allí con mis sueños bajo el brazo?
Quien iba a decir?
Que serias tú el sueño que tengo y que en insomnios me hace falta.
Quien pensaría, que sería eso la razón porque te busco en todos lados.
Caminar por caminar.
Tú mi razón. Ya no por vagar.
Quien lo iba a decir?
Que andabas por allí...
Que andabas siendo la razón por la que ya jamás vería nada igual.
Que andabas siendo mis sueños.
Que andabas siendo mis razons y locuras.
Que andabas siendo mi mundo entero, en el que pierdo delirando al illegar a alguna esquina.
Quien iba a decir?
Que serías lo más bonito
Que lo serías todo.
Que serías.
Que por ti soy.
Y quien iba a decir?
Que alguna vez...yo sería?


Danny Bonilla

...tengo que besarte!

imagino tus ojos
e la piel se me eriza
son las doce en punto
y mi espíritu aterriza,
te miro delante
y se me agota el tiempo
...tengo que besarte!
...Oh, tengo que besarte, amor!


Amanda Cobar



sábado, 16 de agosto de 2014

a voz da memória

pudesse,
a voz
da memória,
navegar
num caudal
de palavras,
e confortar-me
a alma,
com a
delicadeza
de um
cetim azul...

o humor

O drama dos humoristas é precisarem sempre de um "outro" para (como dizem os brasileiros) "chingar".
Os únicos humoristas que "chingam" consigo próprios, sem magoar ninguém, (coisa que eu entendo como verdadeira arte) são o palhaço, e o mímico.
Um e outro conseguem divertir e comover em silêncio, transmitindo à sua função uma importância sociocultural imensa, ao contrário dos restantes humoristas, cuja actuação chega a ser brutal, assustadora...angustiante.
O palhaço e o mímico fazem pensar, através de uma atitude delicada, tão natural quanto necessária ao comportamento humano.

O pilar do aspecto nefasto do humorismo, é uma tendência, diria cultural, das pessoas, que consiste em eleger um elemento de alguma forma frágil, e assestar todo o tipo de piadas na sua direcção. Trata-se de uma atitude comum a crianças, adolescentes, jovens adultos, adultos e idosos. 
Só entendo esta atitude, como reflexo de uma pobreza sociocultural muito grande, que provoca um comportamento usual, a todos os níveis patológico

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

saudades

Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.


Fernando Pessoa

subjetividades

A percepção da realidade, não nos é dada pelos acontecimentos de grande carga emotiva, seja do ponto de vista festivo, seja do ponto de vista dramático, ou outro.  
São as pequenas coisas que nos permitem ler com clareza aquilo que nos envolve.
1º exemplo:
Após o meu treino diário de natação, dirijo-me para o balneário para o habitual duche. No local já se encontra outro adulto, que, em espera, aguarda pacientemente que um grupo de seis rapazes, entre os 8 e 10 anos, termine de saborear a água quente, imóveis sob os chuveiros. De vez em quando olham de soslaio os dois utentes que, de gel de banho em punho, aguardam.
A certa altura, o meu companheiro de espera pergunta se alguém nos pode dispensar um chuveiro. Um dos jovens cede então o seu, o que permite que resolvamos o nosso problema. 
Um episódio engraçado, reconheço, mas, porque o olhei com alguma atenção, me deixou indicações um tanto preocupantes.
O olhar dos jovens é indiferente, vazio. Não se dão conta de que estão a promover uma atitude deseducada e anti-social para com os outros. Mas, ao mesmo tempo, é notório que não estão a agir em consciência. Estão simplesmente a agir por instinto. Não sabem o que estão a fazer. 
Há uma lacuna evidente: a falta de orientação, da  responsabilidade dos pais, numa fase importantíssima do crescimento e formação das crianças, enquanto seres humanos.
A área de intervenção paternal, na mentalidade em construção destas crianças, está desocupada. É clara e evidente a ausência dos pais.
2º exemplo: 
À esplanada da mesma infraestrutura, onde me encontro a tomar café, chega uma jovem deste escalão etário, acompanhada pela progenitora. Enquanto a mãe toma café ao balcão, a criança afasta-se alguns metros e fica a olhar calma e atentamente ao redor. Tem uma postura natural, correta, segura de si. A certa altura regressa junto da mãe, a quem terá pedido autorização para se afastar um pouco. Concedida a autorização, afasta-se caminhando com naturalidade, julgo que para ver de perto ou cumprimentar algum amigo, após o que regressa para junto da mãe.
É claro que neste segundo exemplo, existe uma clara e evidente presença (que não apenas, física) dos pais. A postura e atitude da criança, denunciam a preocupação deste tipo de pais pela sua formação e crescimento, mantendo por certo, permanentemente acesa, uma  relação de afeto e cumplicidade, absolutamente fundamental.

Dois momentos anónimos, dir-se-á, dois grãos de poeira na imensidão do cosmos.
Contudo, representam o momento certo da intervenção, para a transformação das mentalidades e do mundo, que o tempo requer.



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

amazing!...

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
e ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo, tremo. Não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Fernando Pessoa 

liminaridade

amar
exige coragem.
coragem de ser
e não ter.
coragem
de aceitar
a liminaridade eterna,
do desejo
do afeto
...da paixão.

esta infinita vontade

Esta
infinita
vontade
de amar,
que me atordoa...

guardarei

Guardarei 
para sempre, 
as angústias e os medos 
que partilhaste comigo. 
Angústias e medos 
que cobri de afeto e ternura, 
em diálogos 
de confiança. 

Medo de perder-te, já não tenho. 
Perdi-te. 

Ficará, 
agora maior do que nunca, 
o medo 
que o mundo ignóbil 
te magoe a alma generosa,
sem mim...

a um ausente














Tenho razão para sentir saudade,
tenho razão para te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo, sem consulta, sem provocação,
até ao limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo as nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave,
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar,
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza,
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

e...no dia dos poetas mortos

nunca dou
quase tudo.

tudo, 
é o que sou.
tudo,
é o que dou.

nada, 
é o que sou.
nada,
é o que tenho.

que não me faltem
as forças
e a redenção,
do pranto.

deficiência mental

É deficiente mental, (ao que consta). Conhece-mo-nos há quase 50 anos.
A comunidade interage com ele de forma brejeira, por regra. Por vezes algo exagerada.
Conversamos pontualmente. Sempre revelou uma sensibilidade invulgar. Contaram-me que por vezes, à noite, grita revoltado por algum tratamento menos correto, de que foi vitima durante o dia.
Quando nos cruzamos durante os nossos passeios solitários, cumprimenta sempre com um sorriso e na altura das largadas de touros recomenda-me repetidamente: "não vá para as largadas. É muito perigoso. Os touros têm muita força e podem matá-lo".
Já nos temos cruzado, e, absorto nalgum pensamento, trás um olhar frio e duro. Mas basta que o cumprimente com um - "então?!" - para que o rosto se abra num sorriso.
Não duvido que este ser humano tem um interior, quem sabe inóspito, "trabalhado" ao longo de muitos anos por uma sociedade especializada em colocar anátemas naquilo que não compreende, mas tem também um interior que conhece a tristeza, a alegria, a revolta, a gratidão, a dor...
Noutro plano, e curiosamente, cumpre tarefas de rotina com um notável sentido de responsabilidade, como que agradecido pela confiança e partilha que lhe concedem. 
Ora bem - estamos perante alguém responsável, sensível, preocupado, (à sua maneira e isso deve ser respeitado) que a sociedade considera deficiente mental. Notável sociedade! :-( 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

si pudiera...

si pudiera te besaría hasta la voz.


Diego Gaitan

e de repente.

e de repente, 
a doce solidão explode,
em estilhaços
de amargo sossego.



domingo, 10 de agosto de 2014

tristeza, alegria, gratidão.

A verdade acontece de madrugada, no silêncio das ruas.
Uma cadela de rua, abandonada naturalmente (e contra isso já nada há para dizer), vagueia à procura de comida, suponho. Tem um olhar vazio, indiferente. Vou a casa buscar água e comida que lhe levo. Observa-me à distância. Não me conhece e as experiências com humanos, aconselham prudência. Sempre falando com ela, sirvo-a e afasto-me um pouco, para que se sinta mais confortável. Aproxima-se e bebe demoradamente enquanto observo. Volto a indicar-lhe a comida, mas não tem fome. Senta-se e fita-me com o olhar triste, mas agora, atento. Não me tinha dado conta da expressividade do seu olhar, não obstante a experiência com os meus bichos - tenho duas cadelas, uma gata e um cão, sem contar com mais uma cadela e um cão, pertencentes à família e que me visitam regularmente. Tenho a certeza que olhar já não é vazio e indiferente.
Retiro-me. Nesse momento a cadela levanta-se e corre para mim abanando a cauda. Senta-se de novo e pede-me a mão com o olhar. Dou-lhe a mão, que lambe delicadamente. Retribuo com uma carícia, que lhe provoca um frémito de alegria e gratidão, e faz questão de me acompanhar até a casa, após o que regressou...não sei para onde.
Histórias como esta, há muitas. 
Contudo, permite constatar, que sentimentos como, tristeza, alegria, gratidão, pertencerão ao domínio instintivo, evidência que a espécie mais inteligente de todas,  procura insistentemente "corrigir". Tal é o pavor que lhe inspiram os sentimentos.

sábado, 9 de agosto de 2014

o nome

E se de repente ficássemos sem nome?! E aqueles que amamos, ficassem sem nome também?!
É sufocante, imaginar que tal aconteceria.
Na verdade, o nome é a nossa primeira pele, a nossa identidade, a nossa força, o nosso apoio, a nossa essência. 
Sem nome, ficaríamos gravemente mutilados. 
Não é então por acaso, que estremecemos de emoção, ao pronunciarmos, ao ouvirmos, lermos ou escrevermos o nome de quem amamos e que, também ele, faz parte do que somos.

preconceito


não é amor?!

proibido,
improvável,
insensato,
pecador,
indiferente 
ao tempo
e à dor...

não é amor?!

é!
é amor!
o maior de todos os amores!


Época triste a nossa...
Mais fácil quebrar um átomo, do que um preconceito.

Albert Einstein

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

full of tears


catarse




imagem - Geof Kern


Como fazer uma catarse, enquanto processo de libertação da alma, da paixão que a consome, com a visão dessa paixão em permanência na alma?!

contemplações da alma

as contemplações
a que
me sujeitas
a alma,
são apenas...
insustentáveis.

põem a nu
fragilidades,
que
em mim
desconhecia.

e,
instala-se
em todo
o corpo
um agridoce
nervosismo,
que me mata.

muita ternura

seria
um espasmo
de ternura,

muita ternura,

doce,
profunda...

numa amalgama
de suor e beijos,
até
à insustentável
exaustão,
da alma.

despes-me a alma

despes-me a alma.

sem ti
nada é.

em mim,
tudo chora,
da mágoa,
desejo,
plenitude
e ansiedade.
com que
cubro de beijos,

tudo
o que 
te lembre.



terça-feira, 5 de agosto de 2014

alegoria

A alegoria duma primavera intensa
hoje morta, vivida, sonhada
entre clarins e tambores batendo
no ritmo sincopado do sangue.
Uma festa marcada para o crepúsculo,
hoje, amanhã, depois e sempre
adiada, nunca consentida,
e todavia urgente, e todavia necessária.


Albano Martins, in "Assim são as algas" 

mar de verão

No verão cinzento,
cinzenta era a alegria,
azul a cor
da melancolia.

Quem me prometia o mar,
se dar-mo não podia?


Albano Martins, in "Assim são as algas"

fecundação

Uma espada de beijos trespassar-te-á
de encontro às muralhas do medo,
quando o desejo abrir as suas válvulas
e o botão dos teus sentidos desabrochar.


Albano Martins, in "Assim são as algas"

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

favos de som

favos de som.
e a doce flauta ondeante
esgota o sopro no fio interminável.

ilimitada, a capacidade de amar.

porque se esconde então o melhor mel
na simetria fechada da colmeia?


Luísa Freire, in "Verde-Nunca"

plenitudes...

também é
plenitude,
o pranto
de silêncio,
apertado no peito.

sábado, 2 de agosto de 2014

mais que a dor

dói mais
que a dor,
esta
insustentável
mágoa,
de ser,
sem ti...