domingo, 10 de agosto de 2014

tristeza, alegria, gratidão.

A verdade acontece de madrugada, no silêncio das ruas.
Uma cadela de rua, abandonada naturalmente (e contra isso já nada há para dizer), vagueia à procura de comida, suponho. Tem um olhar vazio, indiferente. Vou a casa buscar água e comida que lhe levo. Observa-me à distância. Não me conhece e as experiências com humanos, aconselham prudência. Sempre falando com ela, sirvo-a e afasto-me um pouco, para que se sinta mais confortável. Aproxima-se e bebe demoradamente enquanto observo. Volto a indicar-lhe a comida, mas não tem fome. Senta-se e fita-me com o olhar triste, mas agora, atento. Não me tinha dado conta da expressividade do seu olhar, não obstante a experiência com os meus bichos - tenho duas cadelas, uma gata e um cão, sem contar com mais uma cadela e um cão, pertencentes à família e que me visitam regularmente. Tenho a certeza que olhar já não é vazio e indiferente.
Retiro-me. Nesse momento a cadela levanta-se e corre para mim abanando a cauda. Senta-se de novo e pede-me a mão com o olhar. Dou-lhe a mão, que lambe delicadamente. Retribuo com uma carícia, que lhe provoca um frémito de alegria e gratidão, e faz questão de me acompanhar até a casa, após o que regressou...não sei para onde.
Histórias como esta, há muitas. 
Contudo, permite constatar, que sentimentos como, tristeza, alegria, gratidão, pertencerão ao domínio instintivo, evidência que a espécie mais inteligente de todas,  procura insistentemente "corrigir". Tal é o pavor que lhe inspiram os sentimentos.

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