quarta-feira, 13 de agosto de 2014

deficiência mental

É deficiente mental, (ao que consta). Conhece-mo-nos há quase 50 anos.
A comunidade interage com ele de forma brejeira, por regra. Por vezes algo exagerada.
Conversamos pontualmente. Sempre revelou uma sensibilidade invulgar. Contaram-me que por vezes, à noite, grita revoltado por algum tratamento menos correto, de que foi vitima durante o dia.
Quando nos cruzamos durante os nossos passeios solitários, cumprimenta sempre com um sorriso e na altura das largadas de touros recomenda-me repetidamente: "não vá para as largadas. É muito perigoso. Os touros têm muita força e podem matá-lo".
Já nos temos cruzado, e, absorto nalgum pensamento, trás um olhar frio e duro. Mas basta que o cumprimente com um - "então?!" - para que o rosto se abra num sorriso.
Não duvido que este ser humano tem um interior, quem sabe inóspito, "trabalhado" ao longo de muitos anos por uma sociedade especializada em colocar anátemas naquilo que não compreende, mas tem também um interior que conhece a tristeza, a alegria, a revolta, a gratidão, a dor...
Noutro plano, e curiosamente, cumpre tarefas de rotina com um notável sentido de responsabilidade, como que agradecido pela confiança e partilha que lhe concedem. 
Ora bem - estamos perante alguém responsável, sensível, preocupado, (à sua maneira e isso deve ser respeitado) que a sociedade considera deficiente mental. Notável sociedade! :-( 

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