sexta-feira, 15 de agosto de 2014

subjetividades

A percepção da realidade, não nos é dada pelos acontecimentos de grande carga emotiva, seja do ponto de vista festivo, seja do ponto de vista dramático, ou outro.  
São as pequenas coisas que nos permitem ler com clareza aquilo que nos envolve.
1º exemplo:
Após o meu treino diário de natação, dirijo-me para o balneário para o habitual duche. No local já se encontra outro adulto, que, em espera, aguarda pacientemente que um grupo de seis rapazes, entre os 8 e 10 anos, termine de saborear a água quente, imóveis sob os chuveiros. De vez em quando olham de soslaio os dois utentes que, de gel de banho em punho, aguardam.
A certa altura, o meu companheiro de espera pergunta se alguém nos pode dispensar um chuveiro. Um dos jovens cede então o seu, o que permite que resolvamos o nosso problema. 
Um episódio engraçado, reconheço, mas, porque o olhei com alguma atenção, me deixou indicações um tanto preocupantes.
O olhar dos jovens é indiferente, vazio. Não se dão conta de que estão a promover uma atitude deseducada e anti-social para com os outros. Mas, ao mesmo tempo, é notório que não estão a agir em consciência. Estão simplesmente a agir por instinto. Não sabem o que estão a fazer. 
Há uma lacuna evidente: a falta de orientação, da  responsabilidade dos pais, numa fase importantíssima do crescimento e formação das crianças, enquanto seres humanos.
A área de intervenção paternal, na mentalidade em construção destas crianças, está desocupada. É clara e evidente a ausência dos pais.
2º exemplo: 
À esplanada da mesma infraestrutura, onde me encontro a tomar café, chega uma jovem deste escalão etário, acompanhada pela progenitora. Enquanto a mãe toma café ao balcão, a criança afasta-se alguns metros e fica a olhar calma e atentamente ao redor. Tem uma postura natural, correta, segura de si. A certa altura regressa junto da mãe, a quem terá pedido autorização para se afastar um pouco. Concedida a autorização, afasta-se caminhando com naturalidade, julgo que para ver de perto ou cumprimentar algum amigo, após o que regressa para junto da mãe.
É claro que neste segundo exemplo, existe uma clara e evidente presença (que não apenas, física) dos pais. A postura e atitude da criança, denunciam a preocupação deste tipo de pais pela sua formação e crescimento, mantendo por certo, permanentemente acesa, uma  relação de afeto e cumplicidade, absolutamente fundamental.

Dois momentos anónimos, dir-se-á, dois grãos de poeira na imensidão do cosmos.
Contudo, representam o momento certo da intervenção, para a transformação das mentalidades e do mundo, que o tempo requer.



Sem comentários:

Enviar um comentário