terça-feira, 30 de setembro de 2014

a mágoa

o rosto
cansado
e triste,
acende
uma mágoa
imensa,
por não sentir
contigo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

pertencem-me

pertencem-me
por direito,
o teu silêncio
e a tua ausência.

o cantar doce das rolas

o cantar doce
das rolas,
pinta o silêncio
do jardim...

o teu silêncio,
amor.


sábado, 27 de setembro de 2014

soletro-te

num turbilhão
de sílabas,

soletro

a tua imagem,
o teu nome,
as tuas mãos,
o teu sorriso,
os teus olhos,
a tua boca...

és o meu léxico.

domingo, 21 de setembro de 2014

às dez

e de quando
em vez
às dez
soasse
voz
de um beijo
soletrando o amor.

sábado, 20 de setembro de 2014

inunda-me

as palavras
pouco dizem,

da alegria
de
sentir,

o teu perfume,

inundar-me
o espaço,
o tempo,
a alma.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

ode breve

gostava tanto
de te ver
aqui,

de novo.

chamando-me
de viva voz.

como que recitando,
uma breve,

muito breve

ode,
só de amor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

amar e calar

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

sim, eu sei

sim,
eu sei.
mas então...
como explicar
que a lonjura,
me encha
a alma
de ti?!...


domingo, 14 de setembro de 2014

assustador...

Se alguém começar a odiar uma coisa amada, de modo a que o Amor seja totalmente abolido, persegui-la-à com um ódio ainda maior, como se nunca a tivesse amado e tanto maior, quanto maior o Amor tiver sido.

Espinoza

sábado, 13 de setembro de 2014

a porta aberta

a porta
aberta
deixa-me tonto
e paralisado
de emoção.

mas,
conter,
é a ordem consciente
a um inconsciente,
devastado

pela tentação,
que me contamina
todo o corpo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

a justiça do tempo

Para Lispector, "não há como a liberdade do não entendimento. Não entendemos, mas temos a liberdade de estar fora da dimensão humana".
Mas que dizer, quando o não entendimento está ligado profundamente à uma inexplicável e improvável ruptura,  entre dois seres unidos por uma simbiose de entendimento? Dois seres a quem é muito cara, a elevação da dimensão humana? Em suma - duas almas gémeas?
A minha fé está associada ao tempo. E é na justiça do tempo que me apoio, porque não tenho fé na injustiça e porque apenas desejo... entender. 
...Nada mais.

a minha paz

Verificar que afinal não existe a dimensão humana, onde julgávamos existir, pode trazer um incognoscível alívio aos sofrimentos da alma. Contudo, prevalecendo a dúvida, prevalecerá uma dor, cada vez mais antiga.
Mas... sim! Tenho junto a mim, mesmo na distância, uma pessoinha terna, atenta e expectante, alegre, inteligente e marota, que me inunda de paz. A minha neta.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

pedras

a calçada de pedras
irregulares,
centenárias no local
milenares na alma
fascina o andar.

pedras com
memória.

pedras
colocadas
com ternura,
sem arestas,
respeitando
a forma
e a harmonia
de cada uma.

pedras eternas
e únicas a que,
lentamente,
outros pavimentos
arrancarão
a alma.

acordes

são acordes
de
uma cíclica
e alucinada
partitura
repetidos
numa conjugação
de
pretérito presente
ou
presente pretérito
sem futuro...
sem verbo...

domingo, 7 de setembro de 2014

um breve passeio

Mais um dia de euforia. Há forasteiros mal educados e velhos conhecidos por todo o lado. Os segundos são mais difíceis. Alguns, ou deles não me lembro, ou disfarçam uma intimidade que nunca tiveram. Toda a gente quer ser notada. O vazio e a boçalidade crescem proporcionalmente à medida do som e da loucura da festa. Deixam-me pena dois concertos, mas a experiência diz-me que teria de "pagar" muito para assistir. Vale-me sair pontualmente de manhã bem cedo, para um breve passeio. 

ansiedades

se não estou
insónia-me
a mordedura
da ausência
e do desejo.
mas se estou
é a imponderável
plenitude
e o mal estar
inexplicável
do impossível
que corrói.

sábado, 6 de setembro de 2014

de desilusão em desilusão

Este país à beira mar plantado é um país de desportistas, como o demonstra o melhor futebolista do mundo.
 - Só esse?
Sim, só esse. Não chega?
 - Então e os outros?
Ah, os outros apreciam desporto sentados em frente à televisão. Praticam desporto, olhando e bebendo umas cervejas...
 - Mas...e nos outros desportos?
Bem, há alguns bons praticantes, de desportos sem jeito nenhum, que lutam a vida inteira, contra tudo e contra todos, para poderem praticar o desporto de que gostam. Mas ninguém liga a isso.
 - Quer dizer que, a esmagadora maioria da população não pratica nenhum desporto...
Exactamente!
Hum...isso faz-me lembrar o que se passa com o humor e com o sentido de humor. Começo a entender o Miguel Unamuno, quando diz que "os portugueses são um povo triste até quando ri"...
Com receio de viver, agarram-se ferozmente às tradições. Algumas já deixaram de fazer sentido e começam a arrastar-se penosamente, como a da tortura pública de animais, como divertimento.

mais quente que o desespero

Achei durante muito tempo, que a única verdade incontornável, era a morte. Mas não. Há outra verdade incontornável, que me habita o sonho, o sono, o dia, a noite e todas as palavras que digo e não digo. O amor. O amor, maior que a dor, mais quente que o desespero.