segunda-feira, 7 de novembro de 2016

outra dimensão...

Não consigo "arquivar", de uma vez por todas, a frustração e a revolta por ver ciclicamente, a falta de respeito dos chamados "ex-combatentes" da Guerra Colonial almoçando alegremente, celebrando e contando "façanhas", a incautos que ainda não eram nascidos quando da sua ocorrência. 
Sim. Falta de respeito pelos que ficaram entregues a outra guerra, violentados de forma sistemática no corpo e na alma... há 55 anos.
Falta de respeito porque celebram o que é inseparável da dor e da devastação deixadas para trás.
Falta de respeito porque se banqueteiam sobre uma memória triste.
A relação que temos com a guerra é uma relação íntima, privada, dolorosa... a não ser que a ausência de escrúpulos determine outra coisa.
A minha relação com a guerra exige a dor de uma ferida eterna.
Tem razão Agustina quando diz:
"A guerra é apetecível. Não me venham dizer que a guerra é obra de generais e de caudilhos. A multidão sabe perfeitamente que vai para uma orgia." E a orgia continua...
Recusar-me-ei até ao último suspiro,  pertencer à multidão.
E que mágoa, sentir que esta "gente" me atinge numa outra dimensão... só minha.

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