domingo, 3 de novembro de 2013

o sentido da nudez

"Não é o dinheiro que faz de si uma pessoa bem vestida, é o discernimento."

Christian Dior

Cá está porque eu sempre me senti melhor sem roupa! Com toda a seriedade o digo.
Uma pessoa para estar bem vestida, não precisa ter roupa a cobrir o corpo. Aliás, a roupa foi uma imposição do clima, que o homem transformou num dos muitos maus hábitos que inventou ao longo dos séculos.
A roupa não passa de uma mentira, em muitos casos. Senão vejamos a "elegância"de certas pessoas enquanto vestidas, que se esfuma logo que se despem, ou pelo contrário, possuidoras de uma elegante nudez que desaparece logo que se vestem.
Estamos pois, perante um estado de alma, quer se trate de ter roupa no corpo ou não. A elegância está na alma. Nem sequer está num corpo nu e escultural.
Estou convicto pois, que a naturalidade da nudez, foi algo que se perdeu, e é pena, em detrimento de um sentimento de culpa e falso pudor que nos impede de sermos nós próprios, na liberdade da nudez.

Uma personagem do livro "Maíra", do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, uma freira católica que se apaixona por um padre de origem índia, e o acompanha quando este  resolve regressar ás origens é à sua tribo, desiludido pela formação recebida no seminário, é um exemplo paradigmático desta convicção.
Ela chega à aldeia vestida como qualquer ocidental, mas sente-se de imediato desconfortável perante a nudez tranquila das mulheres indígenas. Uma nudez esplendorosa segundo os parâmetros ocidentais, mas simplesmente natural segundo os parâmetros indígenas. Os risinhos marotos mas puros,  das mulheres nuas perante a mulher vestida, sublinham toda essa naturalidade.

Mas falta reflectir um pouco sobre o papel do dinheiro nesta história, já que o Christian Dior o coloca em plano de destaque.
O dinheiro ...a menina dos olhos do capitalismo, desenfreado ou não!
Sim. Se quisermos vestir-nos temos que comprar roupa, que não precisa ser cara para cumprir as suas funções, associadas à elegância e ao conforto. Mas eu não consigo libertar-me da questão central - a nudez, e da contradição entre ter que gastar dinheiro para não ofender o pudor alheio e estar bem comigo. Tanto mais que me sinto invariavelmente desconfortável  com a roupa que compro. Uma sensação tão diferente da que sinto, nu.
Esta última, para mim, é uma sensação da natureza dos sonhos, da dignidade e dos sentidos que tão caros me são. Na verdade só me sinto desconfortavelmente "nu" se for obrigado a partilhar sentimentos e emoções, com alguém com quem não tenha a menor afinidade ou empatia. O que não é o caso.

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