sábado, 17 de agosto de 2013

Ai, a vida...






Ai a vida!
Quanto mais me magoa, mais a canto.
Mais exalto este espanto
de viver.
Este absurdo humano,
quotidiano,
de um poeta cansado
de sofrer,
e a fazer versos como um namorado,
sem namorada que lhos queira ler.

Cego de luz e sempre a olhar o sol
num aturdido
deslumbramento.
Cada breve momento
recebido
como um dom concedido
que se não merece.
Ai, a vida!
Como dói ser vivida,
e como a própria dor a quer e agradece.

Miguel Torga

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