segunda-feira, 2 de outubro de 2017

bem-aventurança

Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve o vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los
Dei mais a vida e a alma por querê-los,
Donde já não me fica mais de resto.

Assim que alma , que vida, que esperança
E que quanto for meu, é tudo vosso;
Mas de tudo o interesse eu só o levo:

Porque é tamanha a bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais vos pago , mais vos devo.


Luís Vaz de Camões

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