terça-feira, 18 de agosto de 2015

ardor retido

Sobre a mesa a fruta arde. peras,
laranjas, maçãs pressentem
a íntima brancura
dos dentes, o desejo represado,

o espesso vinho de vozes antigas,
arde a melancolia ao inventar
outra cidade,
outro país, outros céus onde lançar

os olhos e o riso. deita-te comigo,
trago-te do mar
a crespa luz da espuma,
nos flancos este ardor retido.

Eugénio de Andrade, in "Branco no Branco"

Sem comentários:

Enviar um comentário