não fosse muita
diria que é pouca
a luz de que preciso
para acender meus dias
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
palavras
Há palavras de que ficamos dependentes. Palavras que nos alimentam na profundidade da alma, que se instalam na dimensão do inconsciente. São a fímbria da toalha onde diariamente bordamos a vida. A sua falta é por isso devastadora. A sua falta alimenta tudo aquilo que mais tememos e transforma a toalha bordada com muito amor, num farrapo irreconhecível.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
estrela
Encontramos estrelas que passam a habitar-nos, na lonjura, e nos transformam em quem verdadeiramente somos, sem que o soubéssemos.
Ansiosamente, aguardamos que a noite, não tenha nuvens...
Ansiosamente, aguardamos que a noite, não tenha nuvens...
palavras densas
Porque se diluem as palavras, virtuais, mas densas como a alma?!...
fonte incontida
Não. Não tenho limites.
Quero de tudo
Tudo.
O ramo fica varejado.
Já nascido em pecado,
todos são naturais
À minha condição,
Que quando, por excepção,
Os não pratico
É que me mortifico.
Alma perdida
Antes de se perder,
Sou uma fonte incontida
De viver.
E o que redime a vida
É ela não caber
Em nenhuma medida.
Miguel Torga
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
princípio
Para te visitar
esquecerei a terra
e apagarei as estrelas.
E irei pelos teus olhos
até o mundo voltar a ter princípio.
Mia Couto
esquecerei a terra
e apagarei as estrelas.
E irei pelos teus olhos
até o mundo voltar a ter princípio.
Mia Couto
ironia
Os momentos magoados, trazem-nos uma absoluta liberdade de alma, proporcional ao aperto do coração.
nada mais
nada mais
sentir apenas
a textura da alma
livre
abençoada
trazida
pelo vento cálido
do silêncio
sentir apenas
a textura da alma
livre
abençoada
trazida
pelo vento cálido
do silêncio
nesse rio...
Nem eu quero outra luz por mais azul que seja.
Não quero outra canção de neve ou de navio,
nem outro coração de peixe ou de cereja.
Quero apenas essa voz, afogar-me nesse rio.
Eugénio de Andrade (excerto)
Não quero outra canção de neve ou de navio,
nem outro coração de peixe ou de cereja.
Quero apenas essa voz, afogar-me nesse rio.
Eugénio de Andrade (excerto)
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
pesadelo
Ainda não tenho o sangue suficientemente frio para pensar com clareza, mas não consigo parar de pensar.
Vou ter que me apoiar neste meu espaço de verdade e liberdade.
Para não enlouquecer.
Eu devia saber que esta comunidade tem pessoas perigosas, dada a notória ausência de escrúpulos, por mim tão badalada. Foram muitos anos a fazer escola. E é uma perigosidade tão mais ativa, quanto disfarçada, que fará ainda estragos.
A vida não é mágica.
A magia não passa de uma ilusão. O que não é ilusão é a dor, a mágoa, o desencanto; algo que este tipo de gente não entende, dada a sua reduzida dimensão humana.
Sinto que me arrancam subitamente da alma, algo que, durante tanto tempo quis proteger.
A minha última esperança é que esteja a sonhar um pesadelo.
Vou ter que me apoiar neste meu espaço de verdade e liberdade.
Para não enlouquecer.
Eu devia saber que esta comunidade tem pessoas perigosas, dada a notória ausência de escrúpulos, por mim tão badalada. Foram muitos anos a fazer escola. E é uma perigosidade tão mais ativa, quanto disfarçada, que fará ainda estragos.
A vida não é mágica.
A magia não passa de uma ilusão. O que não é ilusão é a dor, a mágoa, o desencanto; algo que este tipo de gente não entende, dada a sua reduzida dimensão humana.
Sinto que me arrancam subitamente da alma, algo que, durante tanto tempo quis proteger.
A minha última esperança é que esteja a sonhar um pesadelo.
Isso não!
Copiar uma ideia é e será sempre muito feio. Não importa a técnica utilizada. Na música, na pintura, em qualquer arte.
Conheci um dia um autor que copiava na perfeição imagens que descobria aqui e acolá. Chocando-me ver a naturalidade com que o fazia, perguntei-lhe um dia:
- Como tens uma boa técnica, porque não fazes algo da tua autoria? Seria interessante passares os teus pensamentos para a superfície da tela.
- Não. Isso não. Isso não seria capaz de fazer.
Eu sei que não. As pessoas que são capazes de o fazer, têm alma e emoções. Algo que o referido autor revelou não possuir, neste e noutros planos...muitos outros.
Dói-me tanto, que esta boçal personagem do "antigo regime", apoiado na mentira, tenha manchado as minhas emoções, a minha alma e o meu afeto. Não acredito que possa haver Deus!
Conheci um dia um autor que copiava na perfeição imagens que descobria aqui e acolá. Chocando-me ver a naturalidade com que o fazia, perguntei-lhe um dia:
- Como tens uma boa técnica, porque não fazes algo da tua autoria? Seria interessante passares os teus pensamentos para a superfície da tela.
- Não. Isso não. Isso não seria capaz de fazer.
Eu sei que não. As pessoas que são capazes de o fazer, têm alma e emoções. Algo que o referido autor revelou não possuir, neste e noutros planos...muitos outros.
Dói-me tanto, que esta boçal personagem do "antigo regime", apoiado na mentira, tenha manchado as minhas emoções, a minha alma e o meu afeto. Não acredito que possa haver Deus!
sábado, 25 de janeiro de 2014
!?...
Talvez seja por gostar tanto da solidão, que por vezes tenho a sensação que algo está a acontecer que só eu não vejo, que só eu não entendo...
a razão...
Haverá limites para os afetos?
Poderemos falar em legitimidade dos afetos?
Fará sentido contrariar algo tão profundo? Algo que floresce nas profundezas do inconsciente e incendeia a alma?
Do ponto de vista da natureza humana penso que a resposta é - não!
Contudo, a cultura confronta-nos com a razão. Quando falo em cultura, falo da cultura ocidental, da cultura judaico-cristã.
Mas, e o que é a razão?!
A faculdade de julgar, que caracteriza o ser humano, segundo Kant.
Poderemos falar em legitimidade dos afetos?
Fará sentido contrariar algo tão profundo? Algo que floresce nas profundezas do inconsciente e incendeia a alma?
Do ponto de vista da natureza humana penso que a resposta é - não!
Contudo, a cultura confronta-nos com a razão. Quando falo em cultura, falo da cultura ocidental, da cultura judaico-cristã.
Mas, e o que é a razão?!
A faculdade de julgar, que caracteriza o ser humano, segundo Kant.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
espera
Por vezes, a perspectiva de algo que muito desejamos, acontecer, retira-nos a capacidade de pensar.
Por trás, em contraponto, espreita o seu inverso. A negação...a dolorosa inexistência... o vazio.
Por trás, em contraponto, espreita o seu inverso. A negação...a dolorosa inexistência... o vazio.
lágrimas suaves
...são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto da nossa dor mais profunda...
Clarice Lispector
Clarice Lispector
a minha avó
Como dizia a minha avó Agostinha; o que não tem remédio, remediado está!
Se estivermos bem connosco, alguma coisa do que fizermos salpicará o mundo à nossa volta.
Saravá só para quem eu sei que é de saravá...
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
sublime frustração :(
Viver
numa comunidade pequena, onde tudo está à flor da pele, não é
fácil.
Dois
exemplos difíceis de digerir:
1-
Tentar ajudar uma criança inadaptada e revoltada, tendo como
obstáculos principais a família e instituições que não funcionam.
Apoio escolar - zero.
Apoio psicológico - zero.
Apoio familiar - zero.
Argumento comum às 3 instituições - Não sei o que fazer.
Solução: apagar, remover, eliminar o jovem?!
Simplesmente desolador.
Apoio escolar - zero.
Apoio psicológico - zero.
Apoio familiar - zero.
Argumento comum às 3 instituições - Não sei o que fazer.
Solução: apagar, remover, eliminar o jovem?!
Simplesmente desolador.
2- Alguém que expõe num espaço público, “obras” "trabalhadas" e copiadas de
forma abusiva e básica, a partir de imagens da internet, assumindo a sua
autoria, seria caricato não fosse a enorme falta de respeito
evidenciada.
Falta
de respeito por si próprio, falta de respeito pelo "outro" e falta de respeito pela coisa pública.
Educar este tipo de protagonistas é gigantesco... demasiado mesmo.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
peco
(...)
Peco,
por absurdo humano;
quero não sei que cálice profano
cheio de um vinho herético e sagrado.
Miguel Torga (excerto)
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
domingo, 19 de janeiro de 2014
sábado, 18 de janeiro de 2014
um resto de imortalidade...
(…)
um
resto de imortalidade
nos
fosse dado a beber,
e
toda a música da terra,
toda
a música do céu fosse nossa,
até
ao fim do mundo,
até amanhecer.
Eugénio de Andrade (excerto)
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
saudade...
alma
corpo
silêncio
dor
mãos
olhos
lágrimas
ausência
saudade...
corpo
silêncio
dor
mãos
olhos
lágrimas
ausência
saudade...
injusto
O
justo é injusto, o injusto justo é.
Débil
julguei ouvir tua voz a desoras.
Um
lamento lento,
por
certo a voz do vento.
Secarei,
talvez como o feno,
não
dormindo, nem noites, nem dias.
(…)
Rui
Knopfli, in “O Corpo de Atena” (excerto)
y...
Y detrás de los mitos y
las máscaras el alma, que está sola.
Jorge
Luís Borges
inominado nome
(…)
este nome,
este rosto habita-me
silente
contra a recusa, a
mentira, ou a calúnia.
Na epiderme, nos nervos e
na carne,
sobre a língua e o
palato,
adivinho-lhe a forma,
sabor e propósito.
Ouço-o dentro de mim,
mau grado o queira ou não,
que em mim vive e dura,
enquanto eu dure e viva.
E não por meu mal,
que meu mal seria,
mais que perdê-lo, sem
ele viver.
Um rosto persigo,
um nome guardo no sal da
boca.
(…)
Rui Knopfli, in “O
Corpo de Atena” (excerto)
sábado, 11 de janeiro de 2014
carrocel
Hoje de manhã, de súbito, junto a um pequeno lago: um carrocel colorido!
Um carrocel de cisnes girando lentamente, com apenas uma criança viajando...
Fiquei parado a olhar, não sei quanto tempo, com uma vontade tão grande de subir para o carrocel e sentir, como a criança, o universo girando em paz à minha volta.
Um universo onde se pudesse sonhar.
Os projetos culturais deviam contemplar carrocéis para adultos também, :-) com Chopin, por exemplo, em fundo...
Estou a imaginar-me no carrocel a ouvir o Nocturne e a ler Eugénio de Andrade... com alma gémea pelo ombro... Fazer do carrocel, um espaço de exercício e lazer como o ginásio ou a piscina.
Talvez, por não exigir esforço físico, se revelasse numa ótima ferramenta na transformação dos seres humanos.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
não sei fingir
Não sei fingir que amo pouco, quando em mim ama tudo.
Vergilio Ferreira
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
saudade
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas ás vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira, é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
verdade inventada
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
Clarice Lispector
eu vivo
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?!
Bem, isso já é demais. (...)
Clarice Lispector
Clarice Lispector
impossível
O que verdadeiramente somos, é aquilo que o impossível cria em nós.
Clarice Lispector
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
desrazão
(...)
Eu vivo tantas vidas numa só, tu sabes,
que creio ser demência, abrasadora desrazão
esta inquietude que me alvoraça as noites
e que me faz chorar a tua falta
quando não me escreves ou te ausentas.
José Jorge Letria, in " O Fantasma da Obra II" (excerto) , Antologia Poética
Eu vivo tantas vidas numa só, tu sabes,
que creio ser demência, abrasadora desrazão
esta inquietude que me alvoraça as noites
e que me faz chorar a tua falta
quando não me escreves ou te ausentas.
José Jorge Letria, in " O Fantasma da Obra II" (excerto) , Antologia Poética
pintura na areia
Para curar-me, o feiticeiro
pintou a tua imagem
no deserto:
areia de oiro - teus olhos,
areia vermelha - a tua boca,
areia azul para os teus cabelos,
e branca, branca areia, para as minhas lágrimas.
Pintou durante o dia, e tu
crescias como uma deusa
sobre a imensa tela amarela.
E pela tarde o vento dispersou
a tua sombra colorida.
E, como sempre, na areia
nada ficou senão o símbolo das minhas lágrimas:
areia prateada.
Herberto Helder, in "Poesia Toda", Poema dos índios Peles-Vermelhas
assunção
Gosto de assumir as minhas lágrimas e que isso seja respeitado.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
curiosamente
Curiosamente ou talvez não, o sentimento de fascínio pelo desconhecido, é de natureza diferente do sentimento de angústia perante a dúvida. No primeiro, a nossa atitude perante a vida será sempre uma âncora imprescindível, perante as abordagens que venhamos a ter que fazer das realidades. Na segunda somos confrontados com uma possibilidade de consumação distorcida de algo. Algo que pode variar entre o insignificante e o alimento da própria alma, transformando-se, neste último caso, numa profunda e insuportável mágoa que se instala no peito e na garganta.
sábado, 4 de janeiro de 2014
angústias
basta-me
saber
que os donos
dos meus afetos
estão bem
tal é
a angústia
por imaginar
que não estão
saber
que os donos
dos meus afetos
estão bem
tal é
a angústia
por imaginar
que não estão
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
breves instantes
A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos.
José Agualusa, in "O Vendedor de Passados"
José Agualusa, in "O Vendedor de Passados"
...sempre Espinoza.
Não há dúvidas quanto à justeza da convicção de Espinoza: as minorias de gente boa vivem rodeadas de gente mal educada que não consegue enxergar o sentido da Liberdade, muito menos a liberdade do "outro".
É próprio de gente boçal, pois, pretender sujeitar tudo aos seus parâmetros, em particular o conceito e o espaço de liberdade de cada um. :-(
E infelizmente são tantos, que mesmo dedicando toda uma vida a batalhar, não seria possível vencê-los. Então, resta a possibilidade de lhe vedar um espaço que não merecem, votando-os a uma total indiferença.
À cautela, porque o seu léxico não conhece o termo - escrúpulos.
É próprio de gente boçal, pois, pretender sujeitar tudo aos seus parâmetros, em particular o conceito e o espaço de liberdade de cada um. :-(
E infelizmente são tantos, que mesmo dedicando toda uma vida a batalhar, não seria possível vencê-los. Então, resta a possibilidade de lhe vedar um espaço que não merecem, votando-os a uma total indiferença.
À cautela, porque o seu léxico não conhece o termo - escrúpulos.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
pessoa
O que nos faz ser pessoa não é o Bilhete de Identidade.
O que nos faz ser pessoas é aquilo que não cabe no Bilhete de Identidade.
Mia Couto
imagem - eu e a minha neta
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