terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

alimento


Foto: Hoje precisava de te dizer que só os pequenos amores resistem com pequenas palavras. Com um simples “amo-te”, com um doce “és linda”.

Só os pequenos amores resistem com pequenas palavras.

O nosso é grande demais para sequer resistir com palavras como as outras, com palavras que já existem, com palavras que alguém um dia, por tanto serem ditas, colocou num dicionário.

Não. O nosso exige palavras novas e grandes, como “amotecomócaralhomeudeus”, ou “amoteatéaofimdosossosfodase”, e tantas outras que todos os dias e todas as noites, na cama, no sofá, na rua e em todos os locais em que nos amamos (e nós amamo-nos em todos os lugares, graças a Deus), vamos inventando para dizermos um ao outro.

É a nossa maneira de nos fazermos em palavras.

É a nossa maneira, ainda assim incompleta, de nos dizermos inteiros ou nenhuns.

E não somos nada saudáveis, nada recomendáveis, nada equilibrados.

Queremos a total pertença ou preferimos a total ausência.

Pode ser impraticável manter esta força, este tesão, esta intensidade, este “éagoraoununca”, este “oumedástudooubempodesdesandardaqui” para sempre.

No fundo, tu sabes e eu sei que podemos muito bem ser impossíveis.

Mas para que merda serve o que é possível?

Pedro Chagas Freitas


que a minha
alma
possa
iluminar-se
a espaços
breves

alimentada
de ti





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